2011-04-07

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Eu vi um sapo. O sapo era colossal, do meu tamanho. Disse-me que me odiava desde que se lembrava mas não queria dizer porquê. Revoltado, insisti. Ele não me quis dizer. Ameacei-o com um cigarro. Ele não cedeu. Pus-lhe o cigarro na boca e vi-o vomitar as entranhas a uma distância segura.
Esperei que ele se recompusesse. Não aconteceu.
Esperei dias. Inutilmente. Já não esperava pelo sapo, sei-o com certeza. O sapo começou a cheirar mal. Eu esperei. O sapo desintegrou-se. Eu esperei. 

2011-04-04

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Calmamente levo as mãos a um prato partido e como bocados de porcelana.
Custam um bocado a mastigar mas são facilmente digeríveis.
Defeco caganitas iguais às do coelho branco com os olhos vermelhos.
As caganitas são levadas pelo canário amarelo para o ninho, uma tigela.
Elas crescem. Parecem-se com ovos. Eclodem.
São crias que se assemelham com matrioshkas feitas de porcelana, cujas caras foram desfiguradas por uma criança com os dentes afiados. Elas abriam as bocas para o canário lhes dar de comer mas ele recusava-se porque pensava que eram cucos.
Eu invadi o ninho.
O canário não gostou e começou a picar-me a testa.
Mesmo assim insisti e peguei na primeira matrioshka que consegui.
Abri e lá dentro estava uma outra, feita de madeira.
A terceira era invisível.
Peguei nela e atirei ao chão, pensando que era feita de vidro. Não era.
Ela, atordoada, fugiu e escondeu-se no meio de umas ervas, nunca mais a encontrei.
Voltei ao ninho mas as matrioshkas restantes já fugiam pela árvore de cartão acima. Tentei trepar mas o tronco era demasiado escorregadio.
Atirei berlindes de mármore.
Atirei esferas de metal.
Atirei-me.
Caí.
Estou no chão.
Espero pelas bonecas. Uma pelo menos. O canário canta no topo da árvore uma música que me satiriza. Eu rio-me. Deixo-me estar deitado. Ainda cá estou.