2007-11-22

Dia 51

Dia 51:
Futilidades.
Sinto-me um pouco preso aqui e a única saída possível é a janela. Obviamente era necessário voar como os pássaros ou morcegos, esquilos voadores ou mesmo insectos esquisitos. Não me importava de voar como os heróis de banda desenhada desde que não fosse o super-homem. A verdade é que ele nunca voou embora fosse o que “eles” queriam que eu acreditasse. O super-homem possuía capacidades fora do normal mas tudo isso provinha da gravidade menor da Terra por isso apesar de todas aquelas proezas o seu voo não era nada mais do que uma capacidade para saltar mais longe e alto que qualquer humano. E vê-se logo pelo personagem que se ele vivesse em Kripton não passaria de um zé-ninguém como eu, ainda que fosse filho de membros do jet7 kriptoniano.
Preferia que fosse o meu pai a construir o meu par de asas como Dédalo fez com Ícaro. Assim podia fugir desta caixa que é o meu labirinto. Contudo nem voaria muito perto do Sol nem muito perto do mar porque já conheço o desfecho. Pobre Ícaro, aposto que se fosse agora ele nunca se aproximaria muito do Sol (Hélios/Apolo) porque já descobrimos que pode provocar queimaduras extensas na pele (e derreter cera).
Podia sair daqui de helicóptero, dirigível ou avião mas penso que nenhum deles poderia aterrar no meu telhado e eu não gostaria de subir aquelas escadas que se desenrolam para salvar vítimas; um salto de pára-quedas não ajudaria muito desta altura e não me sinto bem a voar de asa-delta ou parapente.
Por estas causas e devido ao mau tempo que se faz sentir lá fora tenho mesmo que ficar aqui dentro…enfim…
Sei para onde voaria se pudesse.

2007-11-20

Dia 50

Dia 50:
Continuo à procura de um significado lógico para a complexidade paradoxa da linha de pensamento. Somo e subtraio pontuação e nada sai daqui… Pelo menos actualizei-me…
Penso…
Penso…
Rumino…

Dias 45/46/47/48/49

Dias 45/46/47/48/49:
(Todos em um:)
Vá lá, acorda! Consegues ouvir-me? ACORDA!
Dou-me um estalo de um lado e depois do outro. Grito de novo: ACORDA!
Após um longo gemido abro os olhos remelosos que volto a fechar. Dou-me outro estalo e logo desperto. Ainda um pouco confuso observo o espaço enquanto me espreguiço, os meus ossos estalam, e encosto na cabeceira da cama. Estranho, não tenho noção do tempo mas estou no meu quarto.
A atonia dispersa-se e dá lugar a uma amálgama de memórias distorcidas. Poderá ser? Levanto-me, vejo as horas e o dia…é verdade, passaram cinco dias em que só dormi.
Dias 45/46/47/48/49.1:
Em flashbacks lembro-me:
Um homem, um castelo, uma mulher jovem, um concerto, uma mosca morta, um violino sem cordas, muitos relógios, um velho paupérrimo, pedinte, mendigo, uma mulher que chorava, um homem que ria, três crianças, aberrações, céu muito nublado, múltiplas viagens em vários transportes, um campo de futebol sem relva, sem jogadores, uma multidão despida, chuva, noite, uma bebedeira, murmúrios, uma velha sorridente cuja dentadura caía, um camião gigante, um atrelado, família, amigos, uma tenda aberta, um funil parecido a uma chaminé, jóias de ouro e prata, plástico derretido, papel rasgado que primeiro voava e depois se empapava em água, o oceano, as lágrimas salgadas, muitos pássaros, canários amarelos e vermelhos, pintassilgos, dois pombos que levantavam voo, papagaios, um pombo tão fino quanto papel, tripas no chão, um falcão, uma estrada sem rumo, sem indicações, paralelepípedos dispostos aleatoriamente no chão, um céu azul, ela, uma nuvem com asas de veludo, um casaco rasgado, um corpo deitado, um autocarro com as rodas no tecto, uma aranha de estimação, um coração parado, uma fotografia revelada, um pano manchado, uma máscara do fantasma, óvnis que faziam as pazes com os nativos, uma corrente de água muito forte, uma barco de papel, um navio com mercadoria, drogas, várias mulheres deitadas na estrada à espera que o navio passasse, um telhado de chocolate, congestionamento, uma taça de vinho tinto, uma mesa posta à espera da sobremesa, uma banda a tocar tachos e panelas com talheres, uma biblioteca sem livros, uma faca afiada, cartas por abrir, uma conversa, música surda, mais relógios, um ladrão de ovos, uma tesoura aberta, um guardanapo sujo, uma mulher anafada, uma lâmpada fundida, um tesouro na ilha deserta, cem palmeiras, um homem com uma espada, rádios sintonizados, volume alto, um computador desligado, um teclado verde, roupa de cabedal, um túnel iluminado, outra viagem, um comboio a apitar, o vapor da chaleira, o chá derramado, as formigas no açúcar, as mesmas formigas mortas, uma borboleta quadrada, a morte encarnada ao virar da esquina, uma transmissão via satélite, uma nave, uma igreja antiga, um túmulo, um visitante inesperado, calafrios na espinha, um palito que era um fósforo, explosões tornadas em fogo de artificio, o mesmo túnel durante o dia com as luzes apagadas, o sentimento que alguém me batia.
Dias 45/46/47/48/49.2:
Tento em vão organizar os “frames” mas não resulta.
Talvez seja assim que deve ser lembrado.
Não há conjunções…

2007-11-15

Dia 44

Dia 44:
Os olhos encerram a porta da realidade. A imagem branca carregada nas cortinas de pele manchada pelo vermelho sangue que só se deixa ver nessa luz. As sensações contudo misturam-se num traço único que divide o pequeno universo da escuridão.
Assim se tem passado esta ultima hora. Desvendo os silêncios escondidos no fundo da cor escura entre pontinhos brilhantes que formam as imagens luminosas que aí se encontram.
Se olhar para aquele ponto as luzes tornam-se maiores.
Se suspirar e depois parar a respiração o coração toca no cérebro e desfaz a tinta verde que ficou debaixo. Mas só estas manchas se conseguem diluir de volta em água. As outras continuam a cintilar até que se forme uma névoa que se desvanece enquanto entro.
A partir daí vai-se revelando mais clara… por vezes apresenta tons escuros que se vão prolongando até ao vazio. Nunca ousei chegar lá. Fico-me pelo mundo das cores escravas.
O coma…
A névoa volta…
Regresso ao primeiro ponto.

2007-11-13

Dias 25/26/27/28/29/30/31/32/33/34/35/36/37/38/39/40/41/42

(Tenho-me apercebido nos últimos dias que quando “visito” este blog nada foi escrito. Pergunto-me o que fazer, visto ter-me prometido a escrever para ele todos os dias. Obviamente isso não aconteceu por vários motivos que a mim interessam.
Por que não faço as coisas que deveria fazer?
Por que faço o que não deveria fazer?
Por quê tantas perguntas?
Penso, penso muito em tudo, observo muito tudo o que me rodeia. Isso cria em mim uma infinidade de memórias, cheiros que se evadem ao vento, imagens que se desfocam no cérebro. O resultado de me comprometer a escrever todos os dias e não o fazer é a explicação de num dia escrever todos aqueles que faltam descrever. Memória:)
Dia 25:
Maldita Preguiça!
Ok, peço desculpa…mas aquela senhora irrita-me. Odeio quando me vem visitar e obrigado a receber bem como estou não posso impedir que me apareça cá em casa.
Isto da moral e dos bons costumes tem que se lhe diga. Não gosto que as pessoas me julguem pelas aparências mas a sociedade obriga a isso.
Sexta de manhã eu estava a dormir. Penso que foi o meu maior erro porque de outro modo ela não se auto-convidaria no meu sonho. Acordei repentinamente, desanimado por não ter a coragem necessária para negar o convite daquela senhora simpática. Como previsto chegou a minha casa logo no início da tarde e sentou-se ansiando pelo chá que preparava sempre em casa e levava para todas as suas visitas num termo. Pediu-me duas chávenas, colher, açúcar e enquanto os colocava na mesa mandou-me sentar. Organizou-os desordenadamente e verteu nas chávenas o líquido que descrevia como imprescindível para a sua existência. O açúcar ficou manchado pelas colheres molhadas devido a ela tê-las posto nas chávenas mesmo antes de deitar o chá. Bebeu uma chávena apressadamente como se fosse a última coisa que fosse fazer e logo a reabasteceu.
Aconchegou-se na cadeira e começou a contar-me histórias da sua juventude que nada interessam para aqui. Torturou-me durante seis longas horas. O chá desaparecia da chávena e ela logo a voltava a encher; deitava sempre duas colheres de açúcar e lambia o resto que ficava colado na colher. O açucareiro foi aos poucos tornando-se de uma cor amarelada. Aquela prática foi-se repetindo pela tarde; histórias, chá, açúcar. Incrivelmente nunca se acabou o chá nem sequer arrefeceu. Para mim aquele termo tinha uma capacidade espantosa. Sorria enfadado pelo seu monólogo e tentava acompanhá-la na bebida…bebi quanto chá podia e parei após várias idas á casa-de-banho.
Quando saiu não mais me consegui levantar daquela cadeira. Aquele tempo pareceu durar duas semanas.


Dia 26:
Estou tão mal…
Acordei como se a minha vida fosse acabar neste dia.
Eram 11h36m: fui surpreendido pelo bater na porta, agressivo, que me despertou tão abruptamente quanto podia. Levantei-me apregoando umas palavras que ninguém gosta de ouvir, dirigi-me à porta e abri. Não podia acreditar. A senhora Doença estava ali à minha porta com o olhar malvado de sempre fitando-me à espera que apresentasse o meu pedido de desculpas pela demora a abrir a porta. Não lhe dirigi palavra e voltei para a cama…
A Sr.ª Doença aparece sempre sem avisar. A qualquer hora do dia quando menos espero lá está ela a bater à porta esperando que a receba de braços abertos. É uma pessoa extremamente arrogante e antipática que se limita a sentar em qualquer lugar e passar o dia a olhar fixamente para mim. Segue-me para onde quer que vá e assim permanece até se fartar e ir embora. Estou farto dela, parece que me anda a vigiar há duas semanas.


Dia 27:
Ainda não recuperei destas duas visitas e pelos vistos tão cedo não se desvanecerão.
As duas senhoras marcaram-me de modos diferentes:
A preguiça, ausente, deixou-me num estado de alienação total em que me mantenho imóvel.
A doença, presente, acompanha-me para onde quer que vá e impossibilita que esteja sossegado em qualquer parte.

(Este estado repete-se ao longo dos próximos dias. Estas frases não estarão escritas mas pertencerão também a eles.)


Dia 28:
Conto 4 paredes,
8 cantos,
4 superiores e
4 inferiores,
1 porta x2, fechada,
1 janela aberta,
1 meio aberta e outra fechada que resumem
3 janelas no total.
10 gavetas com diferente conteúdo,
1 cadeira enferrujada, outros móveis…
1 cama donde não saí ainda e
1 tecto tridimensional.
Este tem sido o meu espaço.


Dia 29:
Uma orquestra está dentro da cabeça.
O corpo é feito de suor.
Voltas no mesmo lugar envolto em lençóis de água salgada.
Deliro…


Dia 30:
Hoje completaria um mês.
Um mês que escrevo aqui.
Na realidade esse mês passou sem que o tivesse escrito e o mês acabou mais tarde que isso… dias depois…
Ninguém sabe os motivos.
Contudo as desculpas são já bem conhecidas.


Dia 31:
Deitado, num estado catatónico, os ponteiros de relógios onde os ponteiros não existem avançam sobre a forma de dois pontos vermelhos intermitentes. Um som mudo representa o “tic tac” e os segundos demoram-se pelo ar. Suspiro.
Dia 31.1:
Uma rua à minha frente que se divide em duas, depois em três.
Caminho sem parar embora os meus passos se alonguem na calçada. Passo por uma montra e vejo-me no vidro desse expositor. Tenho vislumbres de um homem velho que anda como quem carrega o peso de anos nas costas. Tusso! Ao seu lado está aquela mulher desprezível, a doença.
Persegue-o…
Persegue-me…
Continuo a minha lenta demanda sempre ansiando por voltar ao ponto de partida.
Deito-me novamente. Ela sentada, observa-me…

Dia 32:
Pequenos e pobres textos.
Parece que o que havia a escrever foi escrito e tudo além disso é uma repetição dos mesmos acontecimentos.
Nada mais aconteceu…
Estou só entre viagens, delírios e apatia.
O que poderia ainda ser narrado não o pode ser.


Dia 33:
0


Dia 34:
Re-


Dia 35:
Oco.


Dia 36:
Nada.


Dia 37:
Fútil.


Dia 38:
Inútil.


Dia 39:
Estéril.
Dia 39.1:
Este tempo todo para recuperar de duas visitas. Finalmente acordei predisposto a fazer algo. Todos os sintomas tinham já desaparecido e levantei-me com energia suficiente para deixar a luz entrar. Abri as cortinas e respirei fundo…
Senti-me livre…
A senhora Doença tinha já ido embora e há muito que a senhora Preguiça tinha sido esquecida. (Julgava eu…)
Dia 39.2:
Depois do banho, enquanto me preparava para sair o telemóvel começou a tocar. Inconscientemente atendi e imediatamente reconheci a voz do outro lado. A senhora Preguiça que se encontrava nas redondezas teve a gentileza de se convidar a aparecer.
Ainda tentei dissuadi-la mas foi impossível. Num minuto encontrava-se já na porta à espera que abrisse.
Desliguei a chamada e fui abrir.
Mais uma vez.
A re-petição:
Sentou-se, pediu as chávenas, dispô-las na mesa, serviu o chá do termo, contou histórias…... ...


Dia 40:
Um Zero…
O retorno a uma repetição recopiada, a um corpo oco.
O regresso do nada fútil, inútil, estéril.



Dia 41:
...um zero…


Dia 42:
Estéril, inútil, fútil, o nada a que regresso.
Oco este corpo, retornado a uma réplica repetida.
Um Zero…

2007-11-07

N.B.3:Dou-me só mais um dia, senão desapareço… Organizo-me.

2007-10-28

N.B.2: Quando criei este blog convenci-me que iria escrever para o mesmo diariamente.
Claro que deveria ter-me prevenido antes disso. Conheço-me tão bem e mesmo assim pensei que desta vez uma senhora, a preguiça, não iria intervir. Afinal que raio tem ela a ver com isto? Mas é verdade, essa senhora é a culpada de não ter escrito ontem.
Já hoje o motivo é outro. Foi a doença que provocou este vazio que se instalou e veio para ficar.
Por isso hoje fico por este pedido de desculpas à minha pessoa. Quando puder retomarei as minhas crónicas e claramente estes dois dias em falta (25/26) provavelmente reflectirão sobre estas duas que causaram a desordem.
Aviso novamente que isto não conta como um “post”.
Despeço-me com uma frase de uma série de culto:
“…não percam o próximo episódio porque nós também não!”

2007-10-26

Dias 23/24

Dia 23:
Um dia perfeitamente normal. Voei e voei…
Viajei pelos confins do universo e pelo meu interior da minha mente.
Dos confins do universo escreverei uma próxima. Desta vez abordarei o meu inconsciente. Como já escrevi anteriormente um dos meus passatempos preferidos é sonhar. Só não escrevo preferido porque há umas quantas necessidades físicas sem as quais seria impossível viver (pelo menos para o Ego). Penso que toda a gente consegue enumerar várias necessidades físicas aprazíveis e imprescindíveis ao ser humano.
Dia 23.1:
Voltando ao Sonho:
Deito-me usualmente muito tarde e sofro de insónias (por hábito ou forçadas a verdade é que não consigo dormir muito bem). Contudo considero-me uma pessoa sonhadora que tenta viver essa realidade ao auge porque quando adormeço permaneço nesse estado letárgico o máximo de tempo possível. O que quer dizer que evito/falho todo o tipo de compromissos existentes para essas “sagradas” horas diárias assim como todo e qualquer tipo de despertadores (uma praga que nos controla e stressa). Por isso tenho o tempo para deambular nesse mundo de (ir)realidade e acordar lentamente a lembrar-me de vários desses episódios. No mundo onírico passam-se certas acções que no mundo “real” seriam impossíveis de realizar.
(Não estou aqui para contar sonhos e se o fizer não será minha intenção. Tudo que é descrito nestas crónicas aconteceu mesmo por mais absurdo que possa parecer à Vossa realidade. Nunca, nunca se julguem mais lúcidos que os outros. A minha realidade existe tanto como a Vossa. Tudo escrito ao longo destes dias, mesmo que não escrito no próprio dia, é totalmente real ou não me chamo Ego Euich Jeiyo. Aquilo que fica por escrever ou explicar é simplesmente porque Eu não o quis revelar. Todavia posso-o revelar mais tarde ou nunca mais. Tudo depende de mim. Este “Blog” foi criado por mim para mim. Por isso não peço para quem se perder e entrar aqui compreender alguma coisa.)
Dia 23.2:
Fico perplexo com a minha atonia quando confrontado por um desses quadrados/rectângulos que infectam a minha vida. Refiro-me a todos os aparelhos detentores de imagens (televisões, computadores, janelas, placards, telemóveis, câmaras, etc.) transmitidas de qualquer modo, modos esses que aumentam de dia para dia. Sei que sou uma pessoa de muitos vícios mas este foge completamente ao meu controlo. E tornou-se uma verdadeira epidemia mundial. Evito o contacto com estes mecanismos demoníacos mas quando me apercebo estou já agarrado ao ecrã a ver as imagens de múltiplas cores em movimento. Dizem que o vídeo matou a rádio mas ele é uma assassino em série. Chacinou toda a espécie de sociedade que existe.
Ex:
-Arruinou a literatura: é muito mais fácil estar sentado ver um filme do que ler o livro que lhe deu origem.
-Arruinou imaginação: as pessoas vêem apenas o ponto de vista de quem fez o filme e abdicam da sua própria visão ao ler o livro.
-Arruinou a convivência social. (Neste item são tantos os defeitos a apontar que cada pessoa deve raciocinar e descobrirá uma multiplicidade de vínculos que esses aparelhos estragam a cada minuto que passa.)
É verdade que progredimos numa era digital e virtual mas será que toda esta tecnologia é positiva?
Penso que não nos devemos entusiasmar demasiado ou acabaremos sentados numa cadeira ou sofá o dia todo, sós, a admirar aqueles programas fantásticos e a conversar com amigos ilusórios.

Dia 24:
Podia escrever sobre assuntos variados mas não descreverei nada do meu dia.
Revelo apenas o sentimento de êxtase e de inebriação sóbria.
Nada mais.
Talvez outro dia. Como sempre. Apenas permanecerei aqui no meu lugar com o meu cigarro a lembrar-me que existem dias maus e bons.
Não sairei para o caos.

2007-10-24

Dia 22

Dia 22:
Então é agora que começa a chuva.
A cidade está envolta numa espécie de neblina daquelas que se prolongam até às manhãs e trazem reis perdidos em batalhas em Suaken, Marrocos (a.k.a. Alcácer-Quibir). Ao olhar pela janela julguei ver o rei disfarçado a caminhar no meio do nevoeiro. Seria mesmo D. Sebastião “o desejado adormecido”? Certamente que não porque nesta altura já seria S. Sebastião. E já não seria o jovem destemido/deficiente mental que sofreu as consequências das más influências/ideias que teve, mas sim um velho desdentado caquéctico que a ninguém poderia salvar. Mas que estava lá fora alguém no meio da névoa densa estava…
Caso digno dos “X-Files”… Só esse e o dos pastores…
Como eu estava a escrever começou a época das chuvas, uma das duas estações que este ano teve. Ainda bem que ela chegou porque já sentia falta de um casaco para me aconchegar. É que nunca fui muito fã do Verão. Gosto de ouvir o som das gotas no chão e nas telhas. Fazem-me dormir melhor e consequentemente sonhar mais (o meu passatempo preferido).
Dia 22.1:
Mais um cigarro e mais outro…
Mais fumo para os pulmões…
O meu corpo é um cinzeiro!
A minha mente é uma sanita!

2007-10-23

Dia 21

Dia 21:
Poderia dizer qualquer coisa mas mais uma vez para salientar aquilo que tenho sentido nos últimos dias… dias e dias… o tempo… … … … … … prolonga-se…
Eu, Ego, repito para que fique lembrado:
O tempo açoitou este dia que está a ser escrito depois do dia já ter passado.
Tudo foi demasiado confuso para prolongar este texto.
Senti a sua falta.
Sinto sempre a sua falta.
(…)


Amanhã este dia será outro dia igual mas escreverei algo sobre alguém. Sobre mim claro. Acho que a ideia ficou esclarecida. Os motivos para uma causa… Opino…

Dia 20

Dia 20:
Lamento ser repetitivo mas isto foi o que se passou mesmo, e se escrevesse todos os dias isto não estaria a mentir. Acontece mesmo todos os dias, só não o revelo:
O tempo açoitou este dia que está a ser escrito depois do dia já ter passado.
Tudo foi demasiado confuso para prolongar este texto.
Senti a sua falta.
Sinto sempre a sua falta.
(…)

Dia 19

Dia 19:
O tempo açoitou este dia que está a ser escrito depois do dia já ter passado.
Tudo foi demasiado confuso para prolongar este texto.
Senti a sua falta.
Sinto sempre a sua falta.
(…)

Dias 16/17/18

Um de três ou três em um. Passo a explicar o (terrível) motivo desta pausa:
Dia 16:
Começou com um coçar (mesmo) estranho que ao andar me levou à casa de banho. Barbeei-me e vi que o meu cabelo caía. Eram cabelos brancos! Pior, eu não sou velho. Eu, Ego, sou apenas uma pessoa com a minha idade como todos e isso não é a razão para estes cabelos branco-acizentados que estão enrolados nos meus dedos…
- “Oh, não…” – digo eu olhando-me no espelho. Cãs são o primeiro sinal de velhice e todos os homens da família Jeiyo envelhecem e morrem prematuramente.
Dia 16.1:
Ao pensar nisto lembrei-me imediatamente (, ou não,) do meu avô Ego e do meu pai Ego. (Sim…é verdade que na minha família a originalidade não é a palavra de ordem mas sim tradição.) (Se bem que a quebrarei.)
Ambos morreram era ainda criança. Segundo a minha mãe, segunda filha da família Euich, o meu avô morrera quando eu tinha um mês de vida e o meu pai faleceu nove anos depois. Lembro-me vagamente do meu pai. Era um homem magro e muito alto que apesar de jovem tinha já traços grosseiros e indícios de uma idade avançada.
Dia 16.2:
Todas estas lembranças estavam a manter-me estático a fixar o reflexo que às vezes se modificava, fazendo ver-me num futuro próximo. A face abandonara o seu branco rosado por uma cor mais amarelada e gasta. As rugas tinham cavado pequenos sulcos que aumentavam de dia para dia. Sentia-me esburacado. O meu cabelo e barba lembravam-me um velho Samoiedo com que brincava quando era puto. Os meus dentes não existiam. No entanto era ainda jovem. Estou a morrer…
Dia 17:
Recordo o dia/noite em que me apercebi do sentido da palavra “morte”. Era um jovem pré-adolescente. Já tinha visto defuntos mas julgava/acreditava que a vida eterna existia. Influência dos ensinamentos religiosos de uma família tradicionalista. Educação que agora abomino.
Estou tão doente.
Desde o dia passado que não consigo deixar de pensar em morte…
Morte por doença, acidente ou suicídio/homicídio…
Morte, morte, morte, morte, morte…
Sinto-me velho e doente…
Estou morto…
Dia 17.1:
Caminho com especial cuidado. Para mim tudo é sinónimo de morte. Pode estar em qualquer lado e tenho medo. Hoje não vou fazer nada porque não quero morrer já. E se a Morte me vem buscar… fujo e depois suicido-me antes que ela me apanhe… não vou deixar que seja ela a por as mãos no meu corpo e fazer com que dê o ultimo suspiro…
Não estou preparado…
Este não é o momento por isso deixa-te estar aí no teu canto…
Eu quero decidir o momento…
Dia 17.2:
Olho para todo o lado infectado pela paranóia.
Todos os cantos escuros me fazem tremer dos pés à cabeça.
Por todo o lado sons fazem palpitar o meu coração cada vez mais rápido.
Cada cara que passa por mim parece mais feia que a outra.
Às vezes sinto que as pessoas que se cruzam comigo pensam o mesmo.
Sou uma pessoa feia.
Sou eu o assassino por isso por que razão tenho assim tanto medo.
“Cuidado, está ali alguma coisa!”
“Não… é apenas um gato…”
Subo as inúmeras escadas e estou em casa…
Tranco-me…
Fecho tudo…
Dia 18:
Não saio daqui, nem posso sair daqui. Sei que lá fora está alguém para me atacar mal feche a porta. Os cigarros estão a acabar e tenho mesmo de sair… que hei-de fazer?
Os risos tornam-se gargalhadas e alguém parece estar a arrombar a porta.
-Já?!
Refugio-me debaixo da cama. Um tiro ecoa lá ao fundo e não ouvi.
Estou só. Não quero morrer só…
-Por favor algum dos assassinos me pode fazer companhia enquanto morro? Nunca quis morrer sozinho.
Os passos intensificam-se.
A campainha tocou 10 minutos seguidos e nem sei quem é. Não tenho fuga. A minha única hipótese é saltar do último piso e tentar voar por uns segundos nem que seja só para aterrar noutro telhado. Mas eles virão atrás de mim. Eles estão em todas as casas e eu sou a vítima. Deixem-me fugir. Deixem-me correr e saltar muros de pedra mole e telhados de barro fundido mas não me deixem morrer sozinho. Deixem-me só procurar alguém… ou ir buscar…
É verdade… Tive mesmo de fugir… até de mim próprio, porque quando espreitei era eu o meu assassino… são estas as causas…

2007-10-20

N.B.: Peço-me desculpa e lamento a minha incompetência mas nos próximos dias não haverá “posts” . Aviso-me desde já que os retomarei quando reflectir mais sobre um pensamento do dia 16. Hoje, Sábado é dia 19, e quando voltar a “postar” (não gosto muito da palavra), será o dia correspondente a esse dia (ex.: Domingo 20; Segunda 21) contando que também estarão os textos dos dias em falta, dos quais alguns já estão escritos. Dois, para ser mais exacto (16/17). Logicamente isto não conta como um “post” pelo menos teoricamente…Por isso não me leio como tal…

2007-10-16

Dias 14/15

Dia 14:
Fui visitar o meu Interior… vivi um dia no meu Subconsciente…
Dia 15:
Olho para as paredes.

Persigo as sombras com o olhar.

Olho para as paredes.

Sigo com o olhar as sombras.

Olho para o chão.

Vejo o meu fantasma.

Eu sou o fantasma que está no chão.

Olho para a rua.

Sigo os fantasmas que nela caminham.

Olho para a rua.

Sou o fantasma que os observa.

2007-10-15

Dia 13

Dia 13:
Descobri que às vezes o Domingo é Segunda ou melhor dizendo a Segunda é ainda Domingo e o mundo está louco onde tudo parece não fazer sentido nem sequer lutar por fazer esse sentido também como sempre o sentido leva ao ponto que interesse e por não haver ponto algum quando além disso todos julgam que o ponto é um ponto cardeal mas o norte já se perdera aquando da guerra entre os tigres e as batalhas no lugar oculto pela luz ofuscante que cega o mais cego porque nunca viu o que o mirone vê pela janela directamente para o rio quebrado nas linhas escritas a lápis e como sempre ninguém pegou na borracha para tentar apagar a vela que ardia suavemente na brisa de Outono primaveril absorvido nas tintas mata-borrão de óleo para fritar batatas anteriormente fritas e com suave aroma adocicado do sal que continha nas asas do frango voador previamente frito em azeite gorduroso como a farinha de trigo que não faz nada a não ser bolos de rainha e queques para a princesa comer no dia de Páscoa que deve estar a chegar a qualquer hora para castigar os inocentes e recompensar os impunes só por serem uns pobres rapazes filhos das mães dos outros e do próprio pai sem fugirem à regra que os uniu nos instantes mais difíceis do rei desembainhando a sua espada feita de geleia de marmelo por não gostar da marmelada feita pela tia da senhora que havia gostado do seu filho e se perdeu no carro das compras do supermercado levando à frente a panela de cozer os ovos escalfados à moda do cidadão nobre que dá trocos aos infiéis que estão dentro da igreja a dizer uma oração herege dirigida ao deus pai nada poderoso como o super-homem filho da estátua pousada em cima do altar naquela praça onde os pombos cagam aquela matéria verde a qual vai alimentar dezenas de milhar de falcões peregrinos em direcção ao mesmo santuário cinzento cor de burro quando fecha os olhos para aceitar as migalhas que lhe dão devido a ter uma fuga fácil assim como alguém para facilmente culpar do homicídio do suicida árido vadio no deserto de água transparente todavia azul e verde para mais tarde recordar que foi ali que se perdeu a bóia que afundou na terra preta onde um dia se sujou todo e mudou de roupa com o sabonete para se lavar nas partes baixas pois a Flandres um dia fez o seu triste comércio e os bêbedos animavam as ruas perpendiculares ao eixo da bicicleta porém mais uma vez tropecei em todas as historias que começam por esse era uma vez isto e aquilo

2007-10-14

Dia 12

Dia 12:
Que mãos são estas? Que toque é este?
Estes foram os pensamentos delirantes do início… Andei, e andei mais sem perceber onde raio estava metido aquele cão que minutos antes estava a ladrar para mim e entretanto diminuiu tanto de tamanho que parece apenas um rato amedrontado…
Onde está a lupa?
Parem de me tocar! Animais! Não me largam… Devo ter um cheiro que os atrai ou coisa do género…
Senis…
Já vos disse para me largarem! Plantas? Qual trepadeira qual quê?! Eu vi… eu estava lá e presenciei tudo… A culpa não foi dela… Eu sei… tenho certeza daquilo que digo!
Sim, estou disposto a testemunhar em tribunal, desde que ganhe algo com isso…
Até lavo a roupa na lavandaria e tudo…
Daqui a pouco vais reclamar a cabeça ao posto da polícia. Qual? O fixo ou o móvel?
E o “casse-tête”?
Isso já não tem nada a ver comigo… Resolve os teus problemas…
Pronto… o melhor é voltar a deitar-me porque assim não chego lá…
Dia 12.1:
E não é que não cheguei mesmo a lado nenhum…
Estou colado ao chão …
Que MERDA é esta?
Visco?
Lá se foram as penas e agora estou numa pequena gaiola…
Não consigo voar… lá vem o gato…
Transforma-te…
Não!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!....
Dia 12.2:
Que horas são?

2007-10-13

Dia 11

Dia 11:
Por que escrevi em verso no dia anterior?
(Para todos os efeitos o dia anterior é o dia posterior, mas como me dizem desde que era pequenito: “o que conta é a intenção” -memória das casas pequenas que num determinado tempo pareciam feitas à medida. Mas nunca realmente conta a intenção. Este é um daqueles adágios populares que estiveram correctos uma vez quando foram ditos e depois disso foram apenas utilizados como desculpa. Na realidade estava esboçado na minha mente mas a preguiça e o conforto evitaram que fosse escrito nesse dia. Que raio…tempo para aqui, tempo para ali…)
Escrevi-o para descrever o meu estado emocional que se assemelhava aos “sintomas” de uma dessas drogas quaisquer que fazem o “pessoal” sentir-se como muitos sabem e aqueles que não sabem queriam saber…
Neste instante estou completamente lúcido/louco todavia parece que vivo num sonho por isso não há nada para falar neste dia. Apenas fica uma pergunta, mais uma:
Qual o tamanho das palavras sinónimas ou antónimas contando que estas não possuem um ponto final ou espaço, que são vistas de uma perspectiva diagonal com um ângulo superior a noventa graus, com partes molhadas e secas entre folhas que se caíssem não morreriam num qualquer leito arenoso (como a de há dois dias atrás) e que não emitem qualquer odor, som, paladar, imagem ou palpação?
???

Dia 10

Dia 10:
Amanhã voltou a ser Hoje,
Renascido,
Despediu-se e revelou-se.
Os corpos voltaram a unir-se
Em jogos sexuais,
Nos jornais enrolados
Que cercavam o labirinto,
Que apertavam o cerco.
Os corpos estavam separados
Por linhas de comboios,
Usados comboios
Envoltos nas silvas
Com amoras doces que colhi durante a tarde.
Hoje, o hoje foi amanhã
E quanto esperei eu
Que o dia chegasse…
Voltou o comboio manchado.
Fiquei a vê-lo partir
Nos carris oxidados
Na linha oblíqua
Em direcção ao nada
Sem passageiros carregar.

2007-10-11

Dia 9:O amanhã que nunca chega aproxima-se lentamente submisso ao tempo presente. Tudo depende dele e sento-me esperando pacientemente a sua chegada…Dia 9.1:Memória: rio descontroladamente um (sor)riso estúpido, insano, fruto da apatia dos dias anteriores que pelos vistos nada tiveram de apáticos. Dei muita, demasiada importância ao que há-de vir. Essa foi a causa deste riso que me corrompe e deixa nesta situação constrangedora. Passam horas sem que consiga parar de rir…o riso homicida e incontrolável. Foi também num dia anterior que descobri que o riso incontrolável não é possível controlar… ela estava lá e apercebeu-se disso enquanto caminhámos em cima das manchas multicolor que nos sugavam suavemente para o delírio. Sussurrámos palavras inaudíveis aos pobres de espírito. (1=3×1/8) Dia 9.2: Daqui vejo apenas uma fracção da entrada onde uma folha cadente acaba de perecer. Os bichos seguem-na até ao seu leito e devoram-na. “Não há problema, já estava morta”… disse um deles para o seu companheiro que lhe respondeu …”ainda bem, não quero matar ninguém” … Pobres seres… deviam comer minerais porque estes já nasceram sem vida… esta não era uma folha qualquer. Pertencia à copa de um gigantesca figueira australiana que viajou quilómetros para vir nascer ao país à beira mar plantado… os bichos não tinham espécie. Viajavam apenas pelos jardins à procura de mais folhas para devorarem e saciarem a fome. Falta pouco para o Inverno mas parece Primavera. Só as cores são diferentes. Sempre as cores… o que era verde está castanho… o que viria a ser morto está vivo. Pequeno e ingrato ciclo de vida. Viver uns meses para perecer delicadamente nu qualquer leito aquoso com a sensação de falsa realização… os alfa e os ómega… todos se unem no mesmo destino fatalista. Perturbado, decidi ajudar e acelerar o processo usando o meu poder de destruir coisas e adiantar o rumo natural dos acontecimentos. Os bichos perguntavam-se que gigante era este, bateram em retirada sofrendo enormes baixas no seu pequeno exército morrendo na sola das botas, como a folha sem vida desfeita no som crepitante da areia. Dia 9.3: Não, não e mais não… eu não faço isso…
Nunca

2007-10-10

Dias 7/8

Dia 7
O hoje foi ontem, hoje…
Ontem fui desperto por uma voz que mecanicamente dizia:
- “É hora de acordar.”
Semi-acordado esfreguei os olhos e vi que o mundo já era aquilo que era.
Hoje que é ontem tudo é mecânico. Toda a família e amigos se tornaram máquinas devoradoras de pequenos parafusos e pedaços de metal e alumínio. A sua bebida preferida é óleo lubrificante (, pelo menos foi o que me disseram).
Que se passa aqui? – penso eu enquanto me levanto e dirijo à casa de banho.
Ao ver o meu reflexo conoto que eu próprio sou uma máquina….
Uma máquina?! Como é possível?
Como é que nesta noite me tornaram um ser robótico assim como a todos que me rodeiam?
Não sei, mas que me tornaram num (belo e) desprezível robot lá isso tornaram. A minha cor era do bronze, os meus olhos eram objectivas que se auto-focavam. O meu corpo era uma amálgama de latas velhas e parafusos que as uniam em dobradiças enferrujadas.
Senti-me velho, tão velho…
Um velho robot…
“É hora de acordar…”
“É hora de acordar…”
Dia 7.1:
Acordei hoje…
Hoje é ontem…
Esfrego fortemente os olhos, levanto-me e vou à casa de banho…
Vejo-me no espelho e sou só Eu…
O Ego
Não sou uma máquina, nem algo parecido…
Sou apenas um homem…
Sinto-me velho… Muito velho e doente… Tenho 109 anos, parece que toda a vida se esvai dos meus vasos sanguíneos e só eu sei…todos pensam que viverão/viverei eternamente…
Dia 7.2:
Há momentos em que sou a pessoa mais apática do Universo. Ontem não era desses dias…
Há momentos em que sou a pessoa mais excitada do Universo. Hoje não é desses dias…
Era apenas eu a vaguear pelas ruas paralelas com as máquinas dos homens. Tantas…
São tantas e nós nem vimos. Estão em todo o lado. Toco-lhes, cheiro-as, vejo-as…
Passam e passo sem parar. Nós somos elas e elas são homens. Somos ciborgues…
Homem +Máquina numa relação mutualista…
Fugi delas mas elas apanharam-me…

Ontem foi hoje…

Dia 8:
Está tudo na cabeça…
Três vezes três igual a treze horas vinte minutos menos segundos. Que importam as horas?
Por que motivo nos guiamos por elas? As horas são reais?
Mais um modo de me controlar e saber que naquele momento preciso devo desempenhar uma acção programada.
Nunca gostei de programar o meu tempo.
Nunca conseguirei gostar de ter algo que me está “destinado” a fazer…
Assim passam os dias dos “predestinados” conceito por nós criado…
Dia 8.1:
Todo o dia está escrito embora não tenha utilizado a agenda… nunca precisei…
Nunca (ou raramente) me esqueço do que fazer, apenas do que fiz…
Este diário do Ego é o meu livro de memórias. Perguntaram-me porque me chamo Ego. Hoje sou eu que me pergunto…
O meu dia está planeado, está “predestinado”.
Posso impedi-lo de acontecer? Ou estava “destinada” também essa alteração de planos?
Por que me chamaram Ego?
Foi acaso ou tinha de ser assim? Certamente havia mais escolhas! Eu podia ser Tu…
Não são apenas conceitos. Palavras também “predefinidas” para isso… Poderemos nós chamar azul ao vermelho?
Eu quero que o vermelho se chame azul=encarnado.
Se o vermelho fosse mesmo vermelho por que é também chamado de encarnado?
Por que é denominado rouge ou red?
E se estes termos apelidam conceitos porquê tantas variações da mesma cor?
Dia 8.2:
Inebriação…
Esta confusão está a atormentar-me por isso vou recorrer ao meu refúgio…o mesmo do costume…sem espaço ou tempo…
Só, com hábeis métodos de fuga tão secretos quanto o tudo e o nada…
Dia 8.3:
Pessoas e mais pessoas com(o) animais sedentos de sexo. O discurso agrava a tendência massificada. São os líquidos e o fumo que o proporcionam…
Eu, só, fico aqui perdido no meio da multidão rindo interiormente das situações…
E este dia estava “predestinado”.

2007-10-08

Dia 6

Dia 6:
Regresso do Nada sem Nada para contar.
O Nada é simplesmente o Nada
Talvez um destes dias vos conte uma história a preto e branco…
Brevemente…

2007-10-06

Dia 5

Dia 5:
Extraordinariamente o objecto não saiu do mesmo lugar…
Devo ter-me enganado…
Apanhei o errado…
Com certeza que sim…
Só hoje consegui encontrar o caminho… Também podia ter-se avariado a máquina que faz andar a película chamada sítio…
Estava sitiado… mas isolado… as pessoas fugiram todas de repente…
Dia 5.1:
Aqui nada se faz… nada se vê, ouve ou toca…
Talvez nada se cheire…
Aqui é o mundo do nada
Nada
Nada….
Nada

2007-10-05

Dia 4

Dia 4:

Viagens para a terra do nada… Viajo e viajo…

Vou mas volto nos próximos dias…

O meio de transporte destas jornadas é o pior de todos… estranhos lugares sobrelotados… As pessoas malcheirosas explodem em palavras que difusas são incompreensíveis…são burburinhos e risinhos…

Espero ir sozinho no meu lugar porque por vezes as pessoas têm de se sentar em cima umas das outras…

Dia 4.1:

Caminho em direcção ao paralelepípedo depois de comprar o bilhete ao Sr. Adolf Hitler que cortou o bigode tornando-o praticamente irreconhecível. Ainda por cima foi recentemente à C. D. fazer aquilo a que chamam cirurgia plástica e parece-se com Benito Mussolini anão.

Entro e sento-me…

Começam os murmúrios que se prolongam até ao fim da viagem, estranha viagem. Estou sentado, este paralelepípedo não se move mas tudo o resto em redor mexe e quando menos me apercebo, depois de várias paragens cheguei à estação perdida da terra do nada…

A partir daqui estou perdido…

Aqui tudo está sempre igual mas nunca nada é a mesma coisa durante muito tempo…

Aqui tenho residência, onde permaneço imóvel neste dia vidrado em rectângulos audiovisuais…

Dia 3

Dia 3:

Voltei da minha visita a alguém proveniente dalgum lado…

Voltei no carrossel porque quando cheguei a montanha-russa já tinha partido. Claro que no carrossel a viagem demorou um pouco mais e todos sabem que uma montanha-russa avança mais rapidamente. No carrossel, que de 5 em 5 minutos parava, enjoava muito mais e cheguei a vomitar para uma mulher anafada que curiosamente tinha sósias em todas as estações e apeadeiros…e ainda mais curiosamente, ela que provavelmente trabalhava lá, trabalhava também nas outras estações e apeadeiros, e estes eram também todos iguais. (Decididamente não percebo o mundo.)

É já manhã e tenho de dormir ainda.

Mas não durmo…

Dia 3.1:

Que dia é hoje?

Estremeço e acordo…

Mas não dormi, como pude então acordar?!

Senti ao olhar para a minha barriga um aperto que reconheci como um mau presságio do futuro. Reconheço estes sinais:

-espasmos nos braços e olhos;

-enxaquecas;

-dores estomacais e abdominais.

(Entre outros, estes pontos são meramente simbólicos e podem ser interpretados metaforicamente como tudo na realidade. Sim, porque até um soluço pode e quer dizer mais do que uma simples alteração no ritmo do diafragma.)

Aquele aperto podia parecer apenas um sinal de fome mas era muito mais que isso…assustei-me porque já tinha acontecido e todo o meu dia foi atormentado por ele. Coitado do dia, ter de suportar estes fardos…

Eu esperei observando desconfiadamente tudo que me rodeava.

Estava a ser um dia mau…

Dia 3.1.2:

Chuva e mais chuva num momento que parecia ser soalheiro…

Só quando almocei passou aquele aperto e ao desaparecer fez-me acalmar e começar a esquecer esse mau presságio/adágio. (Não que fome e má sorte estejam interligadas.)..

Dia 3.2:

Ia na rua paralela à rua onde estava um enorme espelho onde eu estava reflectido. Ouvi alguém chamar:

-Ego!! Oh Ego!!

Olhei em redor mas não via ninguém…

-Ego!! – Continuou a voz.

Era só eu reflectido a chamar-me. Perguntei-me o que queria mas fiquei revoltado quando me respondi que só queria saber porque me chamava Ego…

Claro que respondi que foi só o nome que me deram e que ninguém muito menos eu tinha nada a ver com isso.

-Chamo-me Ego porque sou Eu. – respondi.

Continuou a falar comigo mas limitei-me a ignorar porque não estava para conversas triviais… que estupidez, perguntar o porquê do meu nome…

2007-10-03

Dia 2

Dia 2:

Primeiro ponto a conotar neste dia:

-insónias matinais.

Já alguém teve algum dia este tipo de insónia demoníaco? (Pergunto a alguém mas não é necessariamente uma pergunta dirigida a alguém. Talvez seja mais para ninguém, quem sabe?!)

Passo a explicar. Alguma vez se deitaram tarde e acordaram de manhã com MUITA disposição para voltar ao (des)agradável sonho/pesadelo mas não conseguiam por mais que tentassem?

E quanto mais tentam, mais começam a ouvir os sons da rua, da música que esteve a tocar a noite toda, do senhor construtor civil com o berbequim violentamente sonoro. Enfim, cedi à pressão e levantei-me. Já não se pode dormir.

Dia 2.1:

Saí de casa e avancei o muro logicamente para o atravessar mas logo que o fiz tropecei, virei a página, caí e comecei logo a soluçar tentando esconder as lágrimas.

Claro que me dirigi imediatamente ao hospital porque tinha certeza que estava a morrer e tinha mesmo uns arranhões e nódoas negras. (Admito que sou hipocondríaco, só um pouco) e adicionando estas lesões à minha gripe pneumónica letal sentia-me condenado.

Lá estava um velho sentado cuspindo os pulmões numa tosse convulsa inacreditável e vi os micróbios saírem, rastejarem pelo chão e subirem por outras pessoas acima. Quando se aproximaram de mim comecei por pisá-los mas logo se tornou impossível aguentar e fugi para cima da cadeira feita de plástico que partiu. Tive mesmo de correr para fora do hospital seguido pelo olhar das pessoas que atónitas não me largavam.

Que estranho, por que me olhariam daquele modo?

Dia 2.2:

Reparo muito nas cores. O dia estava recheado de coisas cinzentas mas felizes…

Existem vários tipos de todas as cores e não são necessariamente variados. Há tons alegres e tristes, tons de ódio e amor e tons assim e assim…

O velho de há bocado era de um tom negro escuro de morte. Para mim morreu mesmo. Acho que não vou voltar a vê-lo por isso morreu para a minha existência.

Se existo…

Ainda não referi que sou daltónico…

Chegou a noite, a mais bela parte do dia e a com mais cores dissolvidas num manto transparente…

Vou desaparecer por umas horas…fiquei de visitar alguém e tenho de apanhar a montanha-russa antes que ela parta sem mim… parte às 23h59m59s…

Dia 1

Dia 1:

Eu sou o Ego...

Só isso importa… não importa a minha idade, a minha face, a minha personalidade…

Essa mostrar-se-á ao longo deste “penoso” diário (ou não) …

Não sei se vou escrever muito ou pouco e mais uma vez não importa… não sei o que (ou se algo) vou revelar de mim… este vai ser simplesmente o meu relato do meu mundo e pouco mais… e este mundo vai mudar enquanto Eu mudo… e volto a repetir caso não tenho reparado:

Nada Importa!!!

Dia 1.1:

Hoje… este dia…

Primeiro dia deste diário…

Admito que tive muitos ao longo dos tempos… quanto tempo?

Ouço ao fundo o som de seres que deixam explodir a libido. Eu estou aqui a deixar fluir o pensamento… Hoje acordei morto, ou pelo menos pensei isso pois alguém durante o sonho me deu um tiro na cabeça, mas Eu não sou assim um ser desprezível (penso Eu, Ego).

E hoje acordei também a pensar que os sonhos revelam o nosso futuro, e as cenas acontecem mesmo como nos filmes. E que filmes. Neste dia deixei simplesmente guiar-me pelos caminhos de calçada e ignorei todos. Para quê ouvi-los?

Mas alguns até disseram coisas interessantes mas que já haviam sido ditas como por exemplo que o vermelho é uma cor que tem a sua personalidade… é mesmo verdade…

Digo-o porque o Vermelho já falou comigo e que personalidade tinha…Além disso limitei-me a divagar pelos jardins que não tinham flores e a cantar músicas de senhores da noite. Ah, e chamaram-lhes sanguinários seres chupadores de sangue (vampiros para os amigos). Na realidade eles nem gostavam de sangue, apenas da cor vermelha distorcida pelo produto químico que saia daquela farmácia.

Hoje também fiz jejum porque embora seja religiosamente ateu pareceu-me bem apoiar os membros de uma qualquer religião com um nome esquisito.

Agora, hora de ir dormir porque não tenho nada que se pareça a sono, vou deixar-me levar outra vez para o outro mundo, aquele aparte onde sou assassinado mas continuo vivo…

Eu, Ego sei que não faz sentido mas foi assim… O Hoje, sabem?!