2011-07-23

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Exaustão. É melhor sentar-me. Acendo um cigarro. Continuo a não encontrar o que ando à procura. Podia encontrar-me a mim. A verdade é que quanto mais se procura menos se encontra, os velhos têm razão.
Não consigo livrar-me da sensação de que alguém me está a observar. Paranóia. Não posso pensar nisso. Só penso em…
“Podias ajudar-me!!”
Não obtenho resposta. Em três passas fumo o resto do cigarro. Levanto-me para continuar a minha busca. Olho para um beco. Estão lá dois homens, numa esquina, a olhar para mim como se eu não os visse. Caminho em direcção a eles. Escondem-se. 

2011-07-21

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Regresso a correr a casa. Subo as escadas, abro a porta, procuro a lupa e volto a sair a correr.
Há-de estar algures.
Não descolo do chão. Procuro incessantemente. A minha mente diz que é inútil mas o corpo manda continuar. De vez em quando olho para trás. Tenho a sensação de estar a ser seguido.

2011-07-20

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Encosto-me a um canto empoeirado. Penso em todas as pessoas que conheço. Enfio o meu nariz no pó. Deito-me completamente. Reviro-me. Estou sujo. Inalo o pó. Tusso. Tenho que sair de casa. Procurar. É preciso procurar. Pode não estar tudo perdido.
Irrompo pela porta e estou no meio das ruas sobrelotadas. Procuro por todo o lado. Vagueio entre as vielas sem nada encontrar. Doem-me os pés. Perdi. Sei que perdi para sempre. Continuo a procurar. Tudo me parece o que quero encontrar. Perdi. Vergonha. Vergonha e medo. O mundo inteiro ri-se de mim. Todos sabem. Deambulo pelas ruas empoeiradas. O sol queima-me. Não encontro. Nunca vou encontrar. Alguém já encontrou. Perdi. Desespero.

2011-07-19

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Acordo com a boca seca. Tenho a sede do homem morto. Alguém bate na porta da cela. É o guarda. Entra, segura com a mão a manga e leva-a ao nariz. Faz um comentário ao cheiro. Diz-me que está na hora. Pergunto-lhe que horas são. Não responde. Olha para mim.
“Tens que tomar banho e vestir-te. Está na hora.”
“Hora de quê?”
“Vais fazer-te de estúpido agora? Segue-me!”
Baixei a cabeça e segui-o. A água gelada da prisão parecia acordar-me a cada gota que caía no meu cachaço. Vesti-me e parei em frente ao guarda. Levou-me pelo braço para uma sala que me era familiar. A mesma sala onde fui condenado. Mais uma vez a sala enche-se com a plateia e com o juiz. As pessoas cochicham nas minhas costas.
Todos se levantam menos o juiz. Faz-me um sinal e chama-me ao pé dele. Após algumas acrobacias debruço-me sobre ele. Ele diz-me ao ouvido que não é preciso a audiência saber a minha sentença. Depois diz que da minha culpa não há dúvida. Não valeria a pena condenar-me à morte, uma vez que já tinha passado por lá e, por exclusão de partes, a melhor punição que encontrara fora o exílio. Pior ainda, ser-me-ia negado o meu maior desejo. Disse que antes do meu exílio tinha que me despedir de todos os conhecidos e dizer-lhes que esta era a minha sentença, que eu era culpado.
Mandou-me para o meu lugar. A plateia inteira cochichava enquanto ia desaparecendo. A sala também desaparecia. Eu pensava no meu desejo irrealizável, para mim muito pior que o exílio.
A sala desapareceu. Estou em casa.

2011-07-11

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O que sei eu?
Até quando tenho que ficar aqui preso?
Condenem-me já à morte. Há vários dias que o ar aqui se tornou irrespirável com o cheiro a fezes e a urina. O meu corpo tem o mesmo cheiro. O pequeno buraco por onde entram as ratazanas é demasiado pequeno para levar a minha diarreia.
Estou farto de me ouvir. Estou farto de falar comigo.
Quero ouvir a minha sentença! Quanto tempo resta? O guarda já não me dá comida há semanas. Perdi a noção do tempo. Uma noite, quando sonhava, pensei que estava no campo, deitado na erva orvalhada a olhar para as estrelas. Tive a sensação de ser uma noite de verão. Perseguiram-me e eu fugi. Sou tão cobarde.
Quando acordei tinha uma barata a olhar para mim. Disse-me que eu estava a tremer e a mexer as pernas. Disse-lhe que era impossível mexer as pernas numa cela tão pequena.
Ela respondeu-me que tudo é possível e esgueirou-se por debaixo da porta.
Chamei-a mas não voltou. Olhei para os dias riscados na parede.
Está demasiado escuro, não consigo ver.
Vale mais fechar os olhos e deixar o tempo atravessar-me.

2011-07-04

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Atrasado.
Três dias passaram e, enjaulado, continuo à espera da sentença.
A minha solitária cela tem 1m², sou forçado a dormir ou em pé ou, aninhado sobre mim mesmo. À 1h em ponto vem o guarda trazer-me a única refeição do dia, nestes últimos três dias. Sei que é 1h porque ouço o sino da igreja, próximo, dar uma badalada. Uma badalada apenas.
Nestes dias tenho pensado no meu crime e por mais que pense nele, não me lembro de o ter cometido. Kafka deverá saber. Pelo menos foi o que um homem me disse um dia, pela porta.
“É mentira, não passaram três dias!”
“Quem disse isso?”
“Eu.”
“Não te vejo.”
“Mas gostavas de ver, não?”
“Claro, há três dias que não vejo ninguém a não ser parte dos dedos assalsichados do guarda.”
“Olha para a poça de água!”
“Só me vejo a mim.”
“Exactamente. Quando queres até sabes.”