2007-10-23

Dias 16/17/18

Um de três ou três em um. Passo a explicar o (terrível) motivo desta pausa:
Dia 16:
Começou com um coçar (mesmo) estranho que ao andar me levou à casa de banho. Barbeei-me e vi que o meu cabelo caía. Eram cabelos brancos! Pior, eu não sou velho. Eu, Ego, sou apenas uma pessoa com a minha idade como todos e isso não é a razão para estes cabelos branco-acizentados que estão enrolados nos meus dedos…
- “Oh, não…” – digo eu olhando-me no espelho. Cãs são o primeiro sinal de velhice e todos os homens da família Jeiyo envelhecem e morrem prematuramente.
Dia 16.1:
Ao pensar nisto lembrei-me imediatamente (, ou não,) do meu avô Ego e do meu pai Ego. (Sim…é verdade que na minha família a originalidade não é a palavra de ordem mas sim tradição.) (Se bem que a quebrarei.)
Ambos morreram era ainda criança. Segundo a minha mãe, segunda filha da família Euich, o meu avô morrera quando eu tinha um mês de vida e o meu pai faleceu nove anos depois. Lembro-me vagamente do meu pai. Era um homem magro e muito alto que apesar de jovem tinha já traços grosseiros e indícios de uma idade avançada.
Dia 16.2:
Todas estas lembranças estavam a manter-me estático a fixar o reflexo que às vezes se modificava, fazendo ver-me num futuro próximo. A face abandonara o seu branco rosado por uma cor mais amarelada e gasta. As rugas tinham cavado pequenos sulcos que aumentavam de dia para dia. Sentia-me esburacado. O meu cabelo e barba lembravam-me um velho Samoiedo com que brincava quando era puto. Os meus dentes não existiam. No entanto era ainda jovem. Estou a morrer…
Dia 17:
Recordo o dia/noite em que me apercebi do sentido da palavra “morte”. Era um jovem pré-adolescente. Já tinha visto defuntos mas julgava/acreditava que a vida eterna existia. Influência dos ensinamentos religiosos de uma família tradicionalista. Educação que agora abomino.
Estou tão doente.
Desde o dia passado que não consigo deixar de pensar em morte…
Morte por doença, acidente ou suicídio/homicídio…
Morte, morte, morte, morte, morte…
Sinto-me velho e doente…
Estou morto…
Dia 17.1:
Caminho com especial cuidado. Para mim tudo é sinónimo de morte. Pode estar em qualquer lado e tenho medo. Hoje não vou fazer nada porque não quero morrer já. E se a Morte me vem buscar… fujo e depois suicido-me antes que ela me apanhe… não vou deixar que seja ela a por as mãos no meu corpo e fazer com que dê o ultimo suspiro…
Não estou preparado…
Este não é o momento por isso deixa-te estar aí no teu canto…
Eu quero decidir o momento…
Dia 17.2:
Olho para todo o lado infectado pela paranóia.
Todos os cantos escuros me fazem tremer dos pés à cabeça.
Por todo o lado sons fazem palpitar o meu coração cada vez mais rápido.
Cada cara que passa por mim parece mais feia que a outra.
Às vezes sinto que as pessoas que se cruzam comigo pensam o mesmo.
Sou uma pessoa feia.
Sou eu o assassino por isso por que razão tenho assim tanto medo.
“Cuidado, está ali alguma coisa!”
“Não… é apenas um gato…”
Subo as inúmeras escadas e estou em casa…
Tranco-me…
Fecho tudo…
Dia 18:
Não saio daqui, nem posso sair daqui. Sei que lá fora está alguém para me atacar mal feche a porta. Os cigarros estão a acabar e tenho mesmo de sair… que hei-de fazer?
Os risos tornam-se gargalhadas e alguém parece estar a arrombar a porta.
-Já?!
Refugio-me debaixo da cama. Um tiro ecoa lá ao fundo e não ouvi.
Estou só. Não quero morrer só…
-Por favor algum dos assassinos me pode fazer companhia enquanto morro? Nunca quis morrer sozinho.
Os passos intensificam-se.
A campainha tocou 10 minutos seguidos e nem sei quem é. Não tenho fuga. A minha única hipótese é saltar do último piso e tentar voar por uns segundos nem que seja só para aterrar noutro telhado. Mas eles virão atrás de mim. Eles estão em todas as casas e eu sou a vítima. Deixem-me fugir. Deixem-me correr e saltar muros de pedra mole e telhados de barro fundido mas não me deixem morrer sozinho. Deixem-me só procurar alguém… ou ir buscar…
É verdade… Tive mesmo de fugir… até de mim próprio, porque quando espreitei era eu o meu assassino… são estas as causas…

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