2012-04-15


“Cima, baixo, cabelos ao vento.” 
“Para com essa vozinha. É demasiado acutilante.”
“O cutelo não está afiado.”
“O software não está afinado.”
 “Respeita o acordo!”, diz-me. 
Filhos da puta. Eu não acordei com nada. O fim-do-mundo. O pesadelo escatológico. Montanha-russa. Patas de cavalos ou patas e cavalos. Cavalos cavalgam éguas. Éguas montam cavalos. As minhas pernas são putas felpudas. Patas felpudas? Não, isso são aranhas peludas. Nada disso.
A MENSAGEM NÃO FOI RECEBIDA. (Posso não ter percebido.)
Plim. 
“Hã?”
“Poke me with a stick.” 
“Estrangeirices.”
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2012-04-13




Não vale a pena esperar por quem não chega.
Um, dois, um, dois e uuupa… em pé!
Deixa-me só olhar para a montra. Para quem morreu nem estou nada mal. 
Um, dois, um, dois, três. Pé ante pé, um rasto de sangue e carne podre. 
Um, dois, um, dois, três, quatro, este pau dava uma bela bengala. 
Esquerda, direita, direita, esquerda, até danço.
Este lixo tem alto valor nutritivo, é só tirar o bolor.
Um, dois, um, dois, três…
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2012-04-12



Morri outra vez como tantas outras vezes. Morto. Vivo. Morto. Vivo. Morto-vivo.
Recebi a tua mensagem, aquela que não sei se enviaste. Coincidência?
Morro mais um bocado. Quero morrer à sombra.
Já não me lembrava do homem. Não importa. Para quê o suspense? O homem era eu, no futuro, uma caveira com pelo que cola páginas de livros para inutilmente construir uma casa. Ridículo. Constroem-se muitas coisas com literatura mas não casas. Já não me quero encontrar. Para quê? Para me perguntar como me meti naquela situação? Certamente enlouqueci. Que páginas de que livros? Hmmm, boa pergunta. Se me encontrasse seria essa a minha pergunta. Tantos livros para escolher.
Tanta gente que passa e ninguém me acordou da morte. Podiam ao menos arrastar-me para aquele bocado de relva onde os cães cagam. Fertilizante para plantas. É que nem o cheiro os incomoda. Porcos!
Por que raio é que morri?! Já não me lembro. Fome? Doença? Fadiga? Porque estou a olhar para o céu enquanto penso isto? Porque estou a escrever tudo o que penso? Ai…
Ai…
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