2012-02-09



O frio aperta e aperta ainda mais a quem não tem onde se abrigar. Tenho pensado no homem da outra noite. Não consegui atravessar a fronteira. Estou cansado de esperar. Receio que as ulcerações me levem os dedos e o nariz. Decidi procurar o homem com a estranha barraca.
Vou perguntando de sem-abrigo em sem-abrigo. Ninguém parece conhecê-lo.
“Como é que se chama?”
“Barraca feita de quê?”
“Como é ele?”
“Costuma andar por aqui?”
Só conheço o vulto dele. Se o visse não o reconheceria. Só o vulto. Lembrei-me que apontou para o seu nome escrito na parede. O mais provável é que nenhum sem-abrigo desta zona o conheça. O lugar onde dorme ainda fica a uma longa distância e pouca energia resta a estes homens para percorrer a pé descalço o caminho.
É melhor pôr-me a caminho.
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2012-02-06


Mais uns dias perdido a deambular na ágora. Decidi ir falar com o guarda da fronteira para que me deixasse voltar clandestinamente ao meu país. Ele não permitiu. Desculpou-se com palavras retiradas de uma notícia no jornal. Disse que a segurança estava demasiado apertada e que saberiam que fora ele a deixar-me passar, caso fosse apanhado. “Podes sempre mandar uma carta.”
Não acreditei mas, ainda assim, não consegui dar-lhe a volta. Resta-me enviar a mensagem em papel virtual sabendo que nunca vai chegar ao destino. É melhor codificar.

“MC TGDDF IGS HMUG IGGPRJ
EWELA OZFPO R LGO WSXHR HMFVUQ ELW ESDHDS WGEHV EQI V FGBTS FS KAHS GJAQLJQW V FMC KW QBTGZHIWU ARK HW HMQ SJLMJRK XO FDTODGE DRJM CLLDCK DMRFK BOIS FCUGE CJ DMRFK YSEGE DRJM BFK EWELA TRDFO US FIR HQZV”
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