O frio aperta e
aperta ainda mais a quem não tem onde se abrigar. Tenho pensado no homem da
outra noite. Não consegui atravessar a fronteira. Estou cansado de esperar. Receio
que as ulcerações me levem os dedos e o nariz. Decidi procurar o homem com a
estranha barraca.
Vou perguntando de
sem-abrigo em sem-abrigo. Ninguém parece conhecê-lo.
“Como é que se
chama?”
“Barraca feita de
quê?”
“Como é ele?”
“Costuma andar por
aqui?”
Só conheço o vulto
dele. Se o visse não o reconheceria. Só o vulto. Lembrei-me que apontou para o
seu nome escrito na parede. O mais provável é que nenhum sem-abrigo desta zona
o conheça. O lugar onde dorme ainda fica a uma longa distância e pouca energia
resta a estes homens para percorrer a pé descalço o caminho.
É melhor pôr-me a
caminho.
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