2008-03-25

Dia 175

Dia 175:
Considero-me filodoxo.
Sou bom ouvinte mas não há ninguém que eu ouça mais do que mim próprio e só em mim confio plenamente.
Sou
Dia 175.1:
Doente, fui ao médico hoje pela tarde. Após uma breve análise ele revelou-me o seu diagnóstico:
- O senhor Ego está com uma Clavitose aguda! – disse ele enquanto abanava a cabeça – Se cá tivesse vindo mais cedo eu poderia evitar que a infecção estivesse já tão disseminada!
No início custou-me acreditar achando mesmo por momentos que ele estivesse com uma daquelas piadas de médico. Logo aceitei o diagnóstico ao recordar-me dos sintomas que tenho vindo a sentir. Tantas precauções para nada. O médico tinha razão, eu podia ter evitado ficar assim se me decidisse mais cedo por ir lá em vez de ir consultar o ancião gigante. Devia ter imaginado que ele é imune às Clavitoses…
Oh… Que será feito de mim????...
Pálido e clavitoso, abandonei o consultório e meti-me na cama. Não quero correr o risco de causar uma pandemia!

Dias 169/170/171/172/173/174

Dia 169:
O Crepúsculo e a Aurora são os meus melhores amigos… Eram… eu abandonei-os…
A história de como eu os conheci perde-se algures nos anos em que também me conheci a mim. Isto não é bem verdade porque não me conheço tão bem a mim como os conheci a eles e certamente eles não me conheceram porque eu não permiti. A verdade anda bem longe disso e eu não me dou a conhecer a ninguém e não passaram assim tantos meses desde que os abandonei…
(Este diário seria supostamente uma elegia às minhas desventuras com eles mas para variar tentei esquecer demasiado rápido…)
A história do Ego com o Crepúsculo e a Aurora deve ser contada…
Outro dia…


Dia 170:
“Outrar-me”… Estou a precisar…
Mas não desejo ser qualquer mortal… Presentemente só encarnando Álvaro de Campos a atravessar o Suez me faria sentir vivo.
Sinto a réstia de energia que tenho esgotar-se.
Quanto anseio eu ser Lord Henry a fumar inúmeros cigarros enquanto corrompo Dorian Gray … Ou Basil o pintor amaldiçoado…
Quero ser Deus no Antigo Testamento e cheirar como Jean-Baptiste Grenouille os aromas pútridos do quarto de Gregor Samsas…
Sou só o Ego Jeiyo…
(E nem dá para fazer aquela cena à James Bond: Jeiyo… Ego Jeiyo… Mesmo que desse não o quereria fazer obviamente!)


Dia 171:
Sinto-me a gatinhar pelo ar e sei que é um sonho, não pelo gatinhar, porque me encontro de pernas para o ar. E deitado na cama não me movo, só os meus braços e pernas se mexem. Isto é contraditório porque me estou a mexer sem me mover e os lençóis são prova irrefutável disso. Eles continuam lá. Também devo constatar que é extremamente difícil gatinhar com pernas e braços em vez de patas quando estou com as costas no colchão. Andar de bicicleta, isso sim é mais fácil, sendo eu capaz de percorrer quilómetros sem transpirar. Contudo acordo cansado sem saber se é do exercício efectuado.
Gatinhar é diferente. Pode mesmo denominar-se desporto-rei do sonho. Não me considero atleta olímpico somente pelo facto de não ser capaz de miar enquanto me mexo sem me mover. Até tenho sorte nesse aspecto.
Há quem mie…
O pior é conciliar todas as capacidades e controlá-las ao ponto da perfeição. Muitos dos que miam não são capazes de se mexer sem se mover sendo que a maior parte deles move-se involuntariamente enquanto se mexe e outros, esses em menor número, movem-se sem se mexer.
Por isso escrevi que até tenho sorte; prefiro não emitir som algum que ser incapaz de me mexer sem me mover…
Desafortunados, malfadados…


Dia 172:
Tédio.


Dia 173:
Castelos, palácios e casas pequenas.
Vestidos de veludo, mesas metálicas, camas de castanheiro, armas destrutivas e deusas adoradas…



Dia 174:
Abalado, ouvi uma campainha que era um sino!

2008-03-18

Dia 168

Dia 168:
Quer me repita quer não…Sou um: *
- Egocêntrico egocentrista, egoísta ególatra e egotista….

*(por ordem alfabética e com ajuda de dicionário - até dizia a edição mas não faço publicidade… censuras)

Dias 166/167

Dia 166:
Floquinhos de algodão branco cor de cereja olvidados…
O fumo não sabe o que há-de pensar… Está aflito…
O ranger das portas assusta-me…
A luz que está fundida seduz-me!
Excitado toco-lhe; apanho um choque…
Infelizmente não fiquei com o cabelo em pé. Mitos…
Desmistificados…


Dia 167:
Urhhhhh… O frio está entranhado em mim (nem sequer fizemos um pacto). Resultado da minha recente visita ao pólo sul. Não vi focas nem pinguins mas vi um bocado de neve descongelada. Chamam-lhe água para beber só que era salgada e cuspi-a na cara. Não era minha. Era apenas um autocolante sem cola que se deixou trazer pelo vento até aos meus pés. Se bem me lembro é aquele… Não me lembro mas é alguém… Alguém importante… Quem é? Maldita memória…
Estava eu no pólo norte sem baleias brancas porque tinham afogado no aquário de minha casa. Coitaditas… (Recalco-o mas sei que foi culpa minha. Foi naquele dia em que não lhes dei de comer… Também faziam tanta porcaria…ter baleias brancas na sala de estar dá trabalho… mas era bonito…mau, mau foi quando estavam com cio -aquela inundação; Enterrei-as no quintal… Um monte que nem tinha conta.)
Deviam dar o meu nome a esse monte: Monte Jeiyo
Estava eu no Equador, senti-me cansado, voltei para casa…
Dia 167.1:
Eu não estava lá quando aconteceu mas disse-me que foi fantástico.
Onde está aquele livro afinal?
Em frente aos olhos?
E ao começar isto já sabia que não ia acabar?
O que é que eu ia dizer?
Também não interessava. Mais tarde ocorre-me…Ah, lembrei-me… COMO È QUE EU FIZ ISTO? SHIFT QUÊ?

2008-03-14

Dia 165

Dia 165:
A mosca anda a zumbir-me para os ouvidos. Não a mato. Porquê matá-la?
Se a matasse pelo som irritante que produz teria de cometer genocídio de todas as pessoas que fazem o mesmo em diferentes situações. E não é esta mosca mais digna de viver que esses humanos? Pelo menos a mosca só me diz zzzzzzzzzzzzzz e as pessoas enchem-me a cabeça de merda. Talvez seja por isto que a vareja está aqui. Tenho a cabeça cheia de tanta merda que já cheira. E este odor insuportável para mim é um pitéu para a mosca. É a primeira morada da sua prole. E nós vamos tornar-nos nessa merda quando morrermos. Mesmo antes de morrer já tanta merda fizemos mas temos a indecência de puxar o autoclismo e esquecemo-nos da merda que acabamos de cagar. Não queremos o mundo infestado de moscas porque são porcas mas elas lambem a merda onde pousaram os seus corpos e nós continuamos borrados a vida toda.
Isto até poderia ser um sonho Kafkiano não fosse estar realmente aqui a mosca negra com as costas brilhantes. Não a enxoto. Não a mato…
Peidei-me… sinto que a mosca não se sente bem comigo e talvez a deixe mais à vontade. Não a censuro. Se eu fosse mosca e estivesse na companhia de um humano também não confiava. Sabendo o que eles fazem com as minorias…
Dizem eles…
Agora é um zangão. Mas mal entra, olha para uma tela colorida provavelmente atraído pelo falso pólen, esbarra nela e volta atrás zangado… Saiu pela janela…
Tento comunicar com a mosca mas ela não me responde, desconfiada.
Logicamente não quis a minha companhia e voou para longe.

Dia 164

Dia 164:
A pele engelhada e flácida encarcera o que resta dos órgãos, músculos e ossos. O sangue tem dificuldade em chegar às extremidades dos meus membros.
Não me excito.
Tenho dificuldade em andar e o derrame cerebral que recentemente me lesou não me deixa praticamente mover o pé esquerdo e o pé direito recusa-se a desempenhar a tarefa do seu irmão. Tenho duas bengalas para me suportar, para andar. Estou sozinho.
A vida tornou-se ingrata. Não, ela nunca me foi grata.
Pelo meu corpo espalham-se marcas, nódoas, fruto das quedas que me lembram constantemente a minha condição de velhice.
Estou apoiado no semáforo. Quero atravessar. Observo em vão as luzes que vão alternando entre o verde e o vermelho enquanto espero que alguém me ofereça ajuda. As pessoas passam tão rápido, nem reparam em mim. Um suspiro obriga-me a pedir ajuda a alguém.
Peço, imploro a quem de aspecto respeitável aqui passa para me ajudar. Ou estão com pressa ou ignoram-me. Em último recurso e após vários minutos de desespero peço a um jovem com péssimo aspecto para me ajudar. Incrivelmente foi a única pessoa que sem pensar duas vezes se dignou a ajudar este pré-cadáver.
O rapaz era EU. Noto que já lhe começa a escassear a energia e deve cometer demasiados excessos, alguns que nem mesmo eu devo ter cometido. Não vou julgá-lo…
O sinal fica verde e ele amparando-me quer com força para sustentar o meu peso, quer com delicadeza para não me partir ajuda-me a atravessar a rua. São poucos metros para o outro lado mas não impede o sinal de mudar para vermelho, verde, vermelho e novamente verde. Os carros esperam com os seus condutores fitando-me com vontade de buzinar e só não o fazem porque se lembram do pai que já morreu ou do avô que já quase tinham esquecido. O jovem parece querer acelerar-me um pouco mas sou incapaz e suplico-lhe para não me deixar cair. Ele sorriu e disse baixinho:
-“Não. O senhor está seguro.”
Num dos sinais verdes passou uma senhora com a elegância de uma vaca gorda, certamente abastada de dinheiro, a quem tinha pedido ajuda minutos antes e ela recusou porque estava “com pressa”. Ao passar por nós, fixou com desdém o rapaz e pronunciou com um sorriso hipócrita na cara:
-“Vê, já arranjou um amigo!”
O rapaz sorriu timidamente enquanto eu murmurei umas palavras que ela devia ouvir em voz alta. No outro lado da rua pedi ao rapaz para me aproximar de um poste para me agarrar. Ele gentilmente deixou-me lá, perguntou se precisava de mais alguma coisa e à minha resposta negativa seguiu o seu caminho.
Havia algo que lhe gostava de dizer mas não pude.
Queria dizer-lhe que um dia todos vão ser aceites como são com defeitos e qualidades e que a vida não é uma coisa má.
Não me atrevi a enganá-lo…
Devia avisá-lo para que ele soubesse que não vale a pena envelhecer quando sabemos que para isso vamos ver todos os nossos conhecidos morrer, vamos também nós adoecer e morrer sozinhos, desamparados.
Queria dizer-lhe que sei o que é ser ignorado e segregado, que as pessoas que fazem isso connosco estão erradas.
Não o quis matar…
Estou novamente à espera para atravessar a rua. Esta não tem semáforos e não me vejo para me pedir ajuda. Todos passam por mim tão rápido e quase me derrubam…
Pé ante pé arrasto-me…
A senhora gorda volta e dá-me o braço. Puxa-me demasiado rápido e impaciente larga-me no centro… desaparece…
Eu caio… Um carro aproxima-se a alta velocidade…
Acordo…

2008-03-13

Dia 163

Dia 163:
Que desespero é este que me passa na goela fechada como a porta de madeira a flutuar no rio mago das terras de algodão doce, chocolate quente com raios de luar que cegam os mentalmente incapacitados?
Encontrei Vénus, a deusa.

Dias 160/161/162

Dia 160:
Na rua estou só eu…
Vou andando em direcção a casa. Lá fora está mesmo a chover. Eu estou lá fora.
Passei por alguém conhecido, um homem de trinta anos com uma postura notável.
Cumprimentei-o, abracei-o, e disse:

-Olá…
Homem
-Olá, tudo bem?
Eu
-Sim, ‘tá tudo bem e contigo?
[Desconheço porque respondo sempre “tudo bem” quando não está nada bem.]
Homem
-Também… Já não te via há muito… Por onde tens andado, que tens feito?
[Perguntou ele na tentativa de me fazer dizer qualquer coisa.]
Eu
Nada… tenho estado por casa a tentar fazer qualquer coisa. E tu?
Homem
-Tenho estado sempre aqui…
Eu
-Ah…
Homem
-Pois… Tu é que nunca me vês…
[Respondeu com alguma indignação devido à minha indiferença.]
Eu
-Vou para casa.
Homem
-Tchau. Até à próxima…

Despedi-me com um murmúrio e continuei caminho. Olhei ainda para trás mas já estava longe daquele lugar. Quando me voltei novamente para a frente um personagem daqueles desenhos animados que ninguém vê vinha na minha direcção. Encontramo-nos debaixo de uma passagem de madeira que apesar de proteger da chuva deixava passar umas gotas geladas que insistiam em apontar ao meu pescoço.
Pus o capuz e então comecei o diálogo desta vez mais formal enquanto lhe dei um aperto de mão débil:

-Boa noite senhor personagem.
Personagem
-Boas noites Ego.
Eu
-Nem por isso. Já as vivemos melhores que esta e nem os temporais importavam.
Personagem
-Não me lembro. Está a chover, posso até tornar-me um borrão.
Eu
-Também estou encharcado, vou para casa.
Personagem
-Por falar nisso… foste fazer aquilo?
Eu
-Hum… Uh… Não. Mais uma vez não, senhor…
[Calei-me uns segundos e despedi-me apressadamente.]
-Adeus… a gente encontra-se por aí…

Quando saí do abrigo pareceu-me ouvi-lo dizer qualquer coisa mas já não quis ouvir.
Reflectindo sobre a minha fobia comecei a andar mais rápido e cheguei à porta. Estava lá o meu vizinho.

-Olá Vizinho!
[Disse ele em voz alta.]
Eu
-Olá…
Vizinho
-Como vai a vida?
Eu
-Vai bem… (Uma merda!!!)
Vizinho
-Então, o que é feito de…

Prontamente o interrompi implorando com o olhar para partir sem trocar nem mais uma letra. Fechei-lhe a porta na cara e corri para o meu quarto onde me tranquei. Não estou seguro.


Dia 161:
Olho para um cabelo nos meus dedos…
Vou enrolando o delicado fio até ficar um novelo… quero viver em Marte…
Tecnologia… suspiro… quando eu era novo não havia rodas.
Não havia mundo.
Não existia eu nem tu…
Só Eu…


Dia 162:
Os recentes acontecimentos fazem precaver-me contra possíveis atentados. Entrei de manhã numa livraria alternativa, dirigi-me à prateleira dos livros de feitiços e quando o dono não me via apontei alguns dos segredos para me manter livre de perigos.
1-Comer mosquitos ao pequeno-almoço, além de ser extraordinariamente nutritivo, afasta todo o tipo de maleitas.
2-Bochechar urina e depois de cuspi-la numa terrina, esfregar no corpo todo resulta na aceitação imediata dos seres enjeitados.
3-Os excrementos das ovelhas moídos num pilão de vidro e ingeridos com um copo de água de nascente fazem crescer… (a parte seguinte era ininteligível por isso quando experimentar anoto o resultado.)
Guardo o papel para quando me fizer falta.

Dias 154/155/156/157/158/159

Dia 154:
Hoje tomei uma decisão…
Vou deixar a rotina de lado, isto é, se a minha vida tiver uma rotina (, e eu sei que tem). Não quero repetir o que fiz ontem!
Logo, hoje… é proibido acordar, tomar banho, comer, beber, mijar e cagar. Não posso ir ao café perto de casa nem a café nenhum, já que é um hábito. Não devo tomar café nem falar, não quero sentar-me ou fumar. Estou proibido de andar mas posso correr visto que não é quotidiano…
Não foder, nem sequer masturbar, não pensar, não agir, não me mover de todo, nem os braços, não desenhar, não pintar, não sorrir, posso chorar…
E sobretudo não ESCREVER a minha crónica…
Resumidamente não sairei do sítio com receio de estar a ser rotineiro…


Dia 155:
O ritmo quotidiano afasta-se ainda mais de mim do que já estava antes.
A rotina deixa-me aqui desolado num canto a chorar (visto que não o fiz ontem). Desesperado, sei que causei isto…
E sei que o início desta decisão foi quando quis quebrar esses costumes.
Perdi a noção das coisas. Mijei-me, caguei-me, não consegui aguentar. Não fui à casa de banho pelo menos… Cheiro mal, não é hábito, só costumo fazê-lo de vez em quando.
Estou cheio de fome e sede. Masturbei-me…
Por que razão o fiz se estou a ir contra mim?


Dia 156:
Rotina: Afinal quem inventou a rotina? Há quanto tempo (em segundos) isso foi?
Não estou eu a ser rotineiro mesmo substituindo as acções de um dia e atribuindo-as a outro. Esta escolha não me vai levar a um ciclo do mesmo modo?
Dia 156.2:
Não sei o que fazer quando não me apetece fazer nada…
Sugestões…


Dia 157:
Nada…
(Como tantas vezes) … A culpa é da Rotina….


Dia 158:
Não sei o que são sonhos.
Não sei quem sou eu.
Não sei nada…
Não sei onde estou. O espaço é escuro e não me deixa ver além de três velas vermelhas acesas cuja chama se apaga lentamente. Foi o vento que me deixou às escuras. A tempestade passou mas continuo sem ver um palmo à frente. Tenho medo. Tremo de frio…
O que se passa aqui? Andam espíritos a voar à minha volta e são abutres que querem comer os meus restos…


Dia 159:
O amor… Esse sentimento indescritível…
Quanto amo quando amo!!!
Pode ele ser avaliado, calculado e traduzido numa medida qualquer?
Poderei eu dizer amo 1.000.000.000.000 (x)? E qual seria a unidade deste x? Quantos graus até matar?

2008-03-03

Dias 152/153

Dia 152:
A janela empurra-me para fora onde os pintassilgos cantam desesperadamente, descrevendo coreografias que atraem as fêmeas. Está um belo dia para passear, já não existem dias assim para passear pelas ruas de alcatrão ladeadas de árvores a florir e casas a ruir. Aqui dentro estava tudo a cair-me para cima desde caixas a montes de papéis riscados a tinta preta. Acho que o espaço estava mesmo a diminuir.
Na rua está a liberdade, está o bom cheiro da manhã. Está o odor do orvalho pelo ar…
Qual o aroma do orvalho?
Dia 152.1:
A multidão está aqui à minha espera. Todos me conhecem de todo o lado. Eles estão aqui só para me ver. Encaminho-me no meu desfile onde vou eu apenas e dispenso altares. Sou capaz de andar para qualquer lugar desde que não seja muito longe.
Estranhamente ninguém me reconhece nesta parada. Pior, todos me ignoram…
Apetece-me ir ao pé deles e dar-lhes a sova que merecem por me estarem a ignorar. Devem estar a gozar comigo… não, é apenas uma brincadeira…
Dia 152.2:
Só o centro da estrada está desimpedido e ao fim de duas horas a andar para ser notado sinto-me já a fraquejar. Porque continuam eles a ignorar-me? Sei que me conhecem…
De repente sou preenchido por uma felicidade imperceptível.
Rio-me para mim… Só para mim…
Finalmente o meu sonho tornou-se realidade. Tornei-me invisível…
Um fantasma…


Dia 153:
Esta solidão cansa-me…
Abandonado… Passa-se alguma coisa estranha aqui…
Paro tudo… Mesmo o teimoso tempo…
Averiguo o que se passa…
Estranha condição esta de ser Homem…
Quero ser como aquele cão sarnento deitado debaixo daquele banco de jardim…
Ah, afinal sou só eu…
Foram as pessoas que me mandaram para aqui…
E tinham nomes… não os decorei… Tinham caras… Essas vi…
Eles não viram a minha… estava tapada por um lençol branco…

2008-03-01

Dia 151

Dia 151:
A cadeira de madeira da cerejeira
Sustem o peso obeso e coeso
Do meu espírito escasso, lasso, crasso .


Aperto-me contra a mesa, asseguro-me que não está mesmo ninguém à volta, verifico mesmo nas partes mais escuras. Não deixo escapar nenhum movimento…
Quando me sinto seguro continuo colado ao monitor atento aos sons em meu redor e não se passa nada…
Nada mesmo…Ouço o relógio fazer tic tac