2011-05-13

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Queria correr, saltar… Estou preso, atado, as mãos atrás das costas e não consigo sair. O homem branco segura-me pelas pernas enquanto me arrasta. Eu estou a ver o chão passar por mim. Toco-lhe com o rosto. Vejo o reflexo no chão. Não é o meu corpo que se arrasta. Fui privado do meu corpo. Não sei o que fazer para voltar a ele.
Tenho espasmos.
O que se passa?
Não percebo. O homem branco pára e encosta-me a uma pedra. Cuspo a areia que me entrou na boca. O homem balbucia palavras num dialecto que não existe. “O quê?”, pergunto. “Que queres de mim?”. Ele continuou a balbuciar.
Eu, desorientado, comecei a espernear. A fazer birra. O homem começou a olhar para mim fixamente, reparou que eu não percebia o que ele dizia e apontou para uma pedra idêntica aquela onde eu estava encostado. Era o meu corpo. Tremia de mãos atadas atrás das costas. Eu comecei a rir-me. O meu corpo do outro lado fazia o mesmo gesto. Depois disse para me chegar a mim. Não consegui fazê-lo. O meu corpo também não. Agora quem ria era o homem branco.
Apetecia-me chorar. O meu peito parecia conter um campo gravitacional. A pressão era enorme. O outro lado sentia o mesmo. O espaço desértico que me rodeava tornou-se uma sala. Eu estava sentado numa cadeira, no outro lado estava o outro eu e num local mais alto, ao centro, estava o homem branco, um juiz.
Tenho medo de mim.
Tenho medo de mim…
Tenho medo de mim…
Tenho medo de mim…
Tenho que sair…
Tenho que sair…
Tenho que sair…
Foge…
Sai daqui…
Inútil ter estes pensamentos. Era impossível escapar. A sala ficou cheia com a audiência. Começo a sufocar com a sua presença. Sinto que perdi o espaço. Sinto que perdi o tempo. Entram as testemunhas. Dizem que o corpo nunca foi meu, nunca o mereci. Só mereço fazer o que querem que eu faça. Mereço estar preso.
Só consegui dizer que todo o corpo merece liberdade.
Fui condenado.
Desconheço a sentença.

2011-05-06

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Atiraram-me uma pedra. Atingiu-me em cheio na cabeça. Não estava à espera, o que faz com que ainda doa mais. Nem a vi a chegar. Não sei quem a atirou.
Derrubou-me.
Dói.
Dói tanto.
Dói-me não só a cabeça mas o âmago, estrangulado por uma força que não decifro. Há coisas que querem sair mas não podem. Estão vedadas. Eu sou a minha própria vedação. Não me magoa mais a ferida aberta provocada pela pedra. Só magoa lá dentro, no fundo. Anseio por uma resposta que não chega.
Depois, o vazio. O medo continua. Escondo-me de ti. Tu escondes-te de mim lá no fundo.