2011-03-23

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Caminhei sobre labaredas. Só os meus pés ficaram queimados. A culpa é do carvão quente. Cheira a carne de porco. Sob as labaredas está o homem.
“Qual é o jantar?” “Não como hoje, não comerei nunca mais.” “Ias comer o quê? A tua própria perna? Bem sabes que aqui não há comida.” “O que queres comer? Não sei o que eu quero.” “Sabes sim. Já te estás a salivar!”

2011-03-17

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Sou um rascunho mal feito. Eles começam a olhar para mim mas não me importo. É como se estivesse dentro de um sonho. Uma montanha de olhos. Estão à minha frente mas eu, que sou maior que a montanha, vou pisando olhos que cegam.
Analogia com a realidade?
Não sei.
Nunca soube. Quero ir para a Cochinchina, ouvir histórias cochinchinianas. Quero sair daqui. As personalidades desdobram-se e adquirem formas e temperamentos próprios. Perdi o controlo que há uns meses tinha. Conhecem-me melhor do que eu conheço a mim próprio. Quis Cochinchina mas despertei em Vaca Malhada.
Ego II: Ego, Ego!! Consegues ouvir-me?
Ego: Sim, e vejo-te.
Ego II: Não quero que me vejas assim.
Ego: Porquê? És igual a mim. E foste tu que me chamaste.
Ego II: Só fisicamente. E não quero que me vejas assim. Chamei-te para me ouvires, não para me veres.
Ego: O que queres?
Ego III: Parem os dois com essas merdas. Picuinhas. Os meus lábios estão ásperos de tantos cigarros fumar, o que é muito mais importante que qualquer merda que queiras dizer, Ego.
Ego IV: Eu sei onde querias pôr os lábios…
Ego III: Olha, chegou esta puta agora. Estávamos os três a ter aqui uma conversa entre homens.
Ego: Eu só quero estar sossegado. Podem deixar-me em paz?
Ego II: Mas… Tenho mesmo que falar contigo. É importante.
Ego IV: És tão fraco que até me enojas Ego. Seja lá o que for, o Ego já sabe, não? Já todos sabemos. E tudo o que disseres, mesmo em privado, vai ser conhecido por nós todos. E tu Ego, és mesmo um cabrão, sabes? Tens problemas com a minha intromissão na conversa?
Ego III: A cabra de merda está a armar-se em boa. Ainda ontem choravas baba e ranho.
Ego II: Ego, quero mesmo falar contigo.
Ego IV: Ahhh, cala-te!!!! Já todos sabemos. Não há nada a fazer!!! Pois não Ego?
Ego: Deixem-me em paz. Quero estar sozinho!
Ego III: És um otário!
Ego: Eu sei.
Ego V: Que alarido é este? Ego, nenhuma sentença ou agregado de vocábulos vai fazer com que a conjuntura actual tenha outro desfecho. Queres apaziguar o teu estado mas só o estás a agravar. Deixa que o tempo se pronuncie. Vós, parasitas, desaparecei. O Ego já disse que quer estar sozinho.
Ego: Obrigado, Ego.

2011-03-03

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O cão não pára de ladrar. Não o consigo ver. Consigo ver, além do negro que me cega os olhos, as luzes intermitentes. O cão enfurece-se e começa a ladrar mais rápido. Rosna. Eu ouço-o na escuridão. Ouço mais ruídos imperceptíveis. O cão continua.
Fico perdido, assim, cego. Contudo sabia que me ia acontecer. Percorro, apalpando o espaço, o caminho até à janela. Conheço o caminho de cor. Encosto o ouvido ao vidro frio e húmido que me arrepia após o primeiro contacto.
O cão calou-se. Ter-lhe-á alguém batido para ele parar de ladrar?
Vou deixar-me ficar aqui encostado, a esperar que alguém me venha segredar uma palavra ao ouvido.
Aguardo no silêncio.