00110011
Sou um rascunho mal feito. Eles começam a olhar para mim mas não me importo. É como se estivesse dentro de um sonho. Uma montanha de olhos. Estão à minha frente mas eu, que sou maior que a montanha, vou pisando olhos que cegam.
Analogia com a realidade?
Não sei.
Nunca soube. Quero ir para a Cochinchina, ouvir histórias cochinchinianas. Quero sair daqui. As personalidades desdobram-se e adquirem formas e temperamentos próprios. Perdi o controlo que há uns meses tinha. Conhecem-me melhor do que eu conheço a mim próprio. Quis Cochinchina mas despertei em Vaca Malhada.
Ego: Sim, e vejo-te.
Ego II: Não quero que me vejas assim.
Ego: Porquê? És igual a mim. E foste tu que me chamaste.
Ego II: Só fisicamente. E não quero que me vejas assim. Chamei-te para me ouvires, não para me veres.
Ego: O que queres?
Ego III: Parem os dois com essas merdas. Picuinhas. Os meus lábios estão ásperos de tantos cigarros fumar, o que é muito mais importante que qualquer merda que queiras dizer, Ego.
Ego IV: Eu sei onde querias pôr os lábios…
Ego: Eu só quero estar sossegado. Podem deixar-me em paz?
Ego II: Mas… Tenho mesmo que falar contigo. É importante.
Ego IV: És tão fraco que até me enojas Ego. Seja lá o que for, o Ego já sabe, não? Já todos sabemos. E tudo o que disseres, mesmo em privado, vai ser conhecido por nós todos. E tu Ego, és mesmo um cabrão, sabes? Tens problemas com a minha intromissão na conversa?
Ego III: A cabra de merda está a armar-se em boa. Ainda ontem choravas baba e ranho.
Ego: Deixem-me em paz. Quero estar sozinho!
Ego III: És um otário!
Ego: Eu sei.
Sem comentários:
Enviar um comentário