2008-03-14

Dia 165

Dia 165:
A mosca anda a zumbir-me para os ouvidos. Não a mato. Porquê matá-la?
Se a matasse pelo som irritante que produz teria de cometer genocídio de todas as pessoas que fazem o mesmo em diferentes situações. E não é esta mosca mais digna de viver que esses humanos? Pelo menos a mosca só me diz zzzzzzzzzzzzzz e as pessoas enchem-me a cabeça de merda. Talvez seja por isto que a vareja está aqui. Tenho a cabeça cheia de tanta merda que já cheira. E este odor insuportável para mim é um pitéu para a mosca. É a primeira morada da sua prole. E nós vamos tornar-nos nessa merda quando morrermos. Mesmo antes de morrer já tanta merda fizemos mas temos a indecência de puxar o autoclismo e esquecemo-nos da merda que acabamos de cagar. Não queremos o mundo infestado de moscas porque são porcas mas elas lambem a merda onde pousaram os seus corpos e nós continuamos borrados a vida toda.
Isto até poderia ser um sonho Kafkiano não fosse estar realmente aqui a mosca negra com as costas brilhantes. Não a enxoto. Não a mato…
Peidei-me… sinto que a mosca não se sente bem comigo e talvez a deixe mais à vontade. Não a censuro. Se eu fosse mosca e estivesse na companhia de um humano também não confiava. Sabendo o que eles fazem com as minorias…
Dizem eles…
Agora é um zangão. Mas mal entra, olha para uma tela colorida provavelmente atraído pelo falso pólen, esbarra nela e volta atrás zangado… Saiu pela janela…
Tento comunicar com a mosca mas ela não me responde, desconfiada.
Logicamente não quis a minha companhia e voou para longe.

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