2008-03-13

Dias 160/161/162

Dia 160:
Na rua estou só eu…
Vou andando em direcção a casa. Lá fora está mesmo a chover. Eu estou lá fora.
Passei por alguém conhecido, um homem de trinta anos com uma postura notável.
Cumprimentei-o, abracei-o, e disse:

-Olá…
Homem
-Olá, tudo bem?
Eu
-Sim, ‘tá tudo bem e contigo?
[Desconheço porque respondo sempre “tudo bem” quando não está nada bem.]
Homem
-Também… Já não te via há muito… Por onde tens andado, que tens feito?
[Perguntou ele na tentativa de me fazer dizer qualquer coisa.]
Eu
Nada… tenho estado por casa a tentar fazer qualquer coisa. E tu?
Homem
-Tenho estado sempre aqui…
Eu
-Ah…
Homem
-Pois… Tu é que nunca me vês…
[Respondeu com alguma indignação devido à minha indiferença.]
Eu
-Vou para casa.
Homem
-Tchau. Até à próxima…

Despedi-me com um murmúrio e continuei caminho. Olhei ainda para trás mas já estava longe daquele lugar. Quando me voltei novamente para a frente um personagem daqueles desenhos animados que ninguém vê vinha na minha direcção. Encontramo-nos debaixo de uma passagem de madeira que apesar de proteger da chuva deixava passar umas gotas geladas que insistiam em apontar ao meu pescoço.
Pus o capuz e então comecei o diálogo desta vez mais formal enquanto lhe dei um aperto de mão débil:

-Boa noite senhor personagem.
Personagem
-Boas noites Ego.
Eu
-Nem por isso. Já as vivemos melhores que esta e nem os temporais importavam.
Personagem
-Não me lembro. Está a chover, posso até tornar-me um borrão.
Eu
-Também estou encharcado, vou para casa.
Personagem
-Por falar nisso… foste fazer aquilo?
Eu
-Hum… Uh… Não. Mais uma vez não, senhor…
[Calei-me uns segundos e despedi-me apressadamente.]
-Adeus… a gente encontra-se por aí…

Quando saí do abrigo pareceu-me ouvi-lo dizer qualquer coisa mas já não quis ouvir.
Reflectindo sobre a minha fobia comecei a andar mais rápido e cheguei à porta. Estava lá o meu vizinho.

-Olá Vizinho!
[Disse ele em voz alta.]
Eu
-Olá…
Vizinho
-Como vai a vida?
Eu
-Vai bem… (Uma merda!!!)
Vizinho
-Então, o que é feito de…

Prontamente o interrompi implorando com o olhar para partir sem trocar nem mais uma letra. Fechei-lhe a porta na cara e corri para o meu quarto onde me tranquei. Não estou seguro.


Dia 161:
Olho para um cabelo nos meus dedos…
Vou enrolando o delicado fio até ficar um novelo… quero viver em Marte…
Tecnologia… suspiro… quando eu era novo não havia rodas.
Não havia mundo.
Não existia eu nem tu…
Só Eu…


Dia 162:
Os recentes acontecimentos fazem precaver-me contra possíveis atentados. Entrei de manhã numa livraria alternativa, dirigi-me à prateleira dos livros de feitiços e quando o dono não me via apontei alguns dos segredos para me manter livre de perigos.
1-Comer mosquitos ao pequeno-almoço, além de ser extraordinariamente nutritivo, afasta todo o tipo de maleitas.
2-Bochechar urina e depois de cuspi-la numa terrina, esfregar no corpo todo resulta na aceitação imediata dos seres enjeitados.
3-Os excrementos das ovelhas moídos num pilão de vidro e ingeridos com um copo de água de nascente fazem crescer… (a parte seguinte era ininteligível por isso quando experimentar anoto o resultado.)
Guardo o papel para quando me fizer falta.

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