2011-07-04

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Atrasado.
Três dias passaram e, enjaulado, continuo à espera da sentença.
A minha solitária cela tem 1m², sou forçado a dormir ou em pé ou, aninhado sobre mim mesmo. À 1h em ponto vem o guarda trazer-me a única refeição do dia, nestes últimos três dias. Sei que é 1h porque ouço o sino da igreja, próximo, dar uma badalada. Uma badalada apenas.
Nestes dias tenho pensado no meu crime e por mais que pense nele, não me lembro de o ter cometido. Kafka deverá saber. Pelo menos foi o que um homem me disse um dia, pela porta.
“É mentira, não passaram três dias!”
“Quem disse isso?”
“Eu.”
“Não te vejo.”
“Mas gostavas de ver, não?”
“Claro, há três dias que não vejo ninguém a não ser parte dos dedos assalsichados do guarda.”
“Olha para a poça de água!”
“Só me vejo a mim.”
“Exactamente. Quando queres até sabes.”

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