2011-07-19

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Acordo com a boca seca. Tenho a sede do homem morto. Alguém bate na porta da cela. É o guarda. Entra, segura com a mão a manga e leva-a ao nariz. Faz um comentário ao cheiro. Diz-me que está na hora. Pergunto-lhe que horas são. Não responde. Olha para mim.
“Tens que tomar banho e vestir-te. Está na hora.”
“Hora de quê?”
“Vais fazer-te de estúpido agora? Segue-me!”
Baixei a cabeça e segui-o. A água gelada da prisão parecia acordar-me a cada gota que caía no meu cachaço. Vesti-me e parei em frente ao guarda. Levou-me pelo braço para uma sala que me era familiar. A mesma sala onde fui condenado. Mais uma vez a sala enche-se com a plateia e com o juiz. As pessoas cochicham nas minhas costas.
Todos se levantam menos o juiz. Faz-me um sinal e chama-me ao pé dele. Após algumas acrobacias debruço-me sobre ele. Ele diz-me ao ouvido que não é preciso a audiência saber a minha sentença. Depois diz que da minha culpa não há dúvida. Não valeria a pena condenar-me à morte, uma vez que já tinha passado por lá e, por exclusão de partes, a melhor punição que encontrara fora o exílio. Pior ainda, ser-me-ia negado o meu maior desejo. Disse que antes do meu exílio tinha que me despedir de todos os conhecidos e dizer-lhes que esta era a minha sentença, que eu era culpado.
Mandou-me para o meu lugar. A plateia inteira cochichava enquanto ia desaparecendo. A sala também desaparecia. Eu pensava no meu desejo irrealizável, para mim muito pior que o exílio.
A sala desapareceu. Estou em casa.

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