2008-03-25

Dias 169/170/171/172/173/174

Dia 169:
O Crepúsculo e a Aurora são os meus melhores amigos… Eram… eu abandonei-os…
A história de como eu os conheci perde-se algures nos anos em que também me conheci a mim. Isto não é bem verdade porque não me conheço tão bem a mim como os conheci a eles e certamente eles não me conheceram porque eu não permiti. A verdade anda bem longe disso e eu não me dou a conhecer a ninguém e não passaram assim tantos meses desde que os abandonei…
(Este diário seria supostamente uma elegia às minhas desventuras com eles mas para variar tentei esquecer demasiado rápido…)
A história do Ego com o Crepúsculo e a Aurora deve ser contada…
Outro dia…


Dia 170:
“Outrar-me”… Estou a precisar…
Mas não desejo ser qualquer mortal… Presentemente só encarnando Álvaro de Campos a atravessar o Suez me faria sentir vivo.
Sinto a réstia de energia que tenho esgotar-se.
Quanto anseio eu ser Lord Henry a fumar inúmeros cigarros enquanto corrompo Dorian Gray … Ou Basil o pintor amaldiçoado…
Quero ser Deus no Antigo Testamento e cheirar como Jean-Baptiste Grenouille os aromas pútridos do quarto de Gregor Samsas…
Sou só o Ego Jeiyo…
(E nem dá para fazer aquela cena à James Bond: Jeiyo… Ego Jeiyo… Mesmo que desse não o quereria fazer obviamente!)


Dia 171:
Sinto-me a gatinhar pelo ar e sei que é um sonho, não pelo gatinhar, porque me encontro de pernas para o ar. E deitado na cama não me movo, só os meus braços e pernas se mexem. Isto é contraditório porque me estou a mexer sem me mover e os lençóis são prova irrefutável disso. Eles continuam lá. Também devo constatar que é extremamente difícil gatinhar com pernas e braços em vez de patas quando estou com as costas no colchão. Andar de bicicleta, isso sim é mais fácil, sendo eu capaz de percorrer quilómetros sem transpirar. Contudo acordo cansado sem saber se é do exercício efectuado.
Gatinhar é diferente. Pode mesmo denominar-se desporto-rei do sonho. Não me considero atleta olímpico somente pelo facto de não ser capaz de miar enquanto me mexo sem me mover. Até tenho sorte nesse aspecto.
Há quem mie…
O pior é conciliar todas as capacidades e controlá-las ao ponto da perfeição. Muitos dos que miam não são capazes de se mexer sem se mover sendo que a maior parte deles move-se involuntariamente enquanto se mexe e outros, esses em menor número, movem-se sem se mexer.
Por isso escrevi que até tenho sorte; prefiro não emitir som algum que ser incapaz de me mexer sem me mover…
Desafortunados, malfadados…


Dia 172:
Tédio.


Dia 173:
Castelos, palácios e casas pequenas.
Vestidos de veludo, mesas metálicas, camas de castanheiro, armas destrutivas e deusas adoradas…



Dia 174:
Abalado, ouvi uma campainha que era um sino!

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