2010-02-14

3-LN0/142282153.1757

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Cadeiras, essa invenção abençoada pelos deuses, mesmo pelos que não existem, mesmo que nenhum exista. Cadeiras onde todos eles são representados, cadeiras onde me sento. Um trono? Por vezes sinto que passei a vida inteira sentado. Mais que deitado, a dormir, a meditar, certamente, e sento-me por um motivo maior ou sem motivo algum. É indiferente, cada pessoa se senta pelos seus motivos, não quero impingir os meus motivos a ninguém. Não tenho nada a ver com isso. A vida é deles, eu não tenho vida. Melhor falando, eu tenho vida, só não aquele tipo de vida que eles têm. É uma vida abstracta, virtual, existente num plano inexistente. Hoje tenho noção daquilo que sou e conheço os meus limites.
É a primeira acção concreta que tomo depois de este sonho de sei lá quanto tempo. Ainda bem que não sigo as regras temporais que o comum humano segue. Perdi a noção do tempo. Levanto-me, ando um pouco numa elipse e volto a sentar-me. É tão bom estar sentado, penso. Levanto-me, ando mais um pouco, sento-me de novo.
Venero cadeiras (mesmo aquelas que deixam o corpo dorido, dormente, quase paralisado). Eu não tenho corpo.
Sentado vejo o mundo.

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