2008-05-13

Dia 224

Dia 224:
Dia perigoso este…
Estava eu a tentar comunicar com uma varejeira que, por sinal, era até bem simpática quando a minha paz foi destruída. Até aqui a secretária aparentava ser um lugar calmo mas o desenvolvimento desta história mostrou-me o oposto:
Enquanto ouvia o zumbido daquela mosca, tentava interpretá-lo, e talvez conseguisse aprender a sua língua, tornando-nos confidentes. Numa situação normal não escolheria um insecto que deposita ovos em corpos mortos e que defeca em tudo quanto é branco… A solidão que tenho enfrentado cá em cima é que me fez repensar as minhas amizades.
Num momento em que tentava zumbir para ela, esforçando-me para expressar vagarosamente nesse zumbido as palavras “ não estou a perceber nada, zumbe mais devagar”, cujo som se assemelhava a zzzezzzzezzzzzzezzzzezzezezzze, apareceu de surpresa uma aranha e capturou a minha recente amiga. É verdade que não nos entendíamos mas a nossa relação estava apenas no início, e pelo desenrolar das coisas teríamos muito tempo para nos conhecermos melhor. Abalado pelo choque, comecei a correr em direcção a um qualquer abrigo; fui parar ao local onde estavam os restos de comida. Foi um gesto instintivo que provavelmente me salvou a vida, porque ainda não tinha comido nada (em muito devido ao facto de não querer partilhar com a mosca) e não sabia quanto tempo mais ia permanecer lá. Arrastei uma folha velha, encorrilhada, de um rascunho; deixei apenas um buraco para poder espreitar. Pela primeira vez desde que estou cá em cima desejei ter a minha força normal para esmagar a aranha. Tive medo. Ela matou a minha nova amiga!
Dia 224.1:
Passaram horas… penso ser já noite.
Afasto o papel devagar, conoto que já não estavam lá, nem a aranha nem a mosca. Verifico bem primeiro, olho por/para todo o lado e nem sinal de ambas.
Resta-me por mãos à obra…
Ainda tenho muito que fazer…

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